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sábado, novembro 22, 2003

Quase tivemos que engolir o Juan 

Fomos ver Brasil x Uruguai no Juan. Ah, sim, o Juan é nosso amigo argentino. Boca doente. Fanático, conhecedor e críticos como nós. Quando é Copa do Mundo, o Juan some, se exila. Bom, nem sempre. China x Costa Rica deu pra assistir junto numa boa. Com home theater novo e o frigobar cheio de cerveja, o Juan nos convidou pra ver o jogo do Escrete no flat dele. Ricardonis, este sim brasileiro da gema, disse que era uma péssima idéia, dada a chatice crônica do Juan quando o assunto é futebol. “Que nada”, disse eu. “Hoje o escrete goleia e nós é que vamos encher o saco dele”. E assim fomos, felizes ou titubeantes, pro Juan.

Se a palavra-chave do jogo anterior foi “posicionamento” hoje nós vamos de “Pane”. Que pasó? Afinal, o Escrete era a própria Laranja Amarela no primeiro tempo. Entrava como queria na defesa celeste. Aproveito o ensejo para agradecer ao excepcional técnico uruguaio, aquele melhor que o Parreira, e seu esquema kamikaze. Nos primeiro 45 minutos o Escrete deu aula de futebol, em ritmo lento, à la Copa de 70, a ponto de eu achar que os tais ingressos de 160 reais no Pinheirão tinham é saído barato. Que aula. De volta à sua posição verdadeira, não como o Zinho que o Parreira quer nem como o volante que a mídia míope vê nele, o Zé Roberto Toninho do Diabo gastou a bola: tabela, drible, lançamento, 2 assistências. Redimiu-se e não foi o único.

Partindo do princípio de que o Parreira ainda goza de perfeita saúde mental e que sendo assim o Ronaldo Michael Jackson é intocável, o Kaká decidiu infernizar o Toninho do Diabo. Com aquela cara de coroinha ele meio que se virá pro Toninho do Diabo e diz: “ah, vai jogar bem? Pois eu vou jogar melhor ainda”. Em Lima, o segundo melhor, depois do Garça. Em Curitiba, novamente medalha de prata, desta vez atrás do Boi. Deste jeito o Escrete terá 2 meias de aproximação jogando juntos em breve: os quase adolescestes Michael Jackson e Kaká Coroinha. Eu citei o Boi? Falemos do Boi.

Ronaldo esteve exuberante. Bovino ainda, mas exuberante. Entrou puto no jogo, eu vi. Alguém aqui gosta de ser chamado de corno manso? E de corno manso gordo? Pois bem, Ronaldo deu uma de alquimista e transformou ira em arte. Que bola jogou. Segundo a se redimir, construiu o placar com 2 tentos e uma assistência. 7 finalizações apenas no primeira tempo, grande parte delas no gol. Cacete, eu sou atacante. Em dia inspirado, chuto 7 ao gol durante o jogo inteiro. O Boi estava visivelmente cansado no intervalo, temos de convir, mas já havia dito a que tinha vindo. Rivaldo esteve apenas OK. Perdeu duas chances claras e foi ofuscado pelos companheiros de ataque que estavam endiabrados.

De marcha ré, falemos do equilíbrio dos volantes. Finalmente um volante de destruição e um de armação, dando à meia cancha o equilíbrio que tanto regozija o professor Golias. Apesar de achar o Juninho Pernambucano, o volante artilheiro, mais jogador e adequado para o sistema atual, o Renato foi bem. O Émerson é volante de destruição, gente, não faz 3 embaixadinhas. Um bom reserva pro Gilberto, que por sua vez não teve que dividir seu espaço no campo com o Tatu desta vez e voltou a ser o nosso Gilberto, aquele que não erra passe e não faz falta. Se não fosse pela infelicidade do gol contra (faz 30 anos que cortaram a língua do Dida), não teríamos notado o Gilberto em campo. E quando isso acontece, significa que ele foi bem. Vide o Maldonado.

Agora o papo vai azedar. Com esta defesa o Brasil não vai ganhar de ninguém, pode fazer 8 mas vai levar 8 também. O Roque Júnior está de favor nesse time, mais parece um cunhado ou genro folgado. E a imunidade pentacampeã do Lúcio acabou de prescrever. Os caras não ganharam uma, seja por cima ou por baixo. Pra ex-reis do jogo aéreo, estão muito plebeus pro meu gosto. Vexatório, pareciam que estavam jogando com aquelas bolas de metal que presos carregam na cadeia. Normalmente não acho que a massa entende de futebol, mas dessa vez engrossei o coro que, aos 12 minutos de jogo, urrava “tira o Lúcio, tira o Lúcio”. O brasiliense tem um problema seríssimo, similar ao do Rivaldo, mas muito pior pra zagueiro: falta total e absoluta de equilíbrio emocional. Se erra o primeiro lance do jogo, passará no mínimo os 45 minutos seguintes errando. Qualquer semelhança com Brasil x Inglaterra é mera coincidência. Sei que muitas vezes a zaga é apenas vítima de um sistema defensivo frágil, mas não me parece o caso. Sobraram falhas individuais, furadas, chutões, lentidão, impulsão de caixa de fósforos, atrasos, passes errados e trapalhadas congêneres. Um verdadeiro show de horror. Como cerejinha do bolo, Dida esteve mal de novo. Sei que deve ser osso trocar Maldini e Nesta por Lúcio e Roque, mas de parede felina na Itália o Dida virou sinônimo de vacilo. Dei-lhe crédito após o jogo em Lima mas os mesmo erros se repetiram. Intranqüilo, abusando dos chutões, vacilando nas saídas, morrendo no meio do caminho. Exijo o Dida do Milan de volta.

Isso talvez explique a pane. O Parreira, quem diria, foi lento, tímido e previsível. Não considero o Casagrande o gênio que apregoam alguns, mas ele foi muito lúcido quando disse que não era necessária a saída do Kaká para entrada do Alex. Como o Coroinha e o Toninho do Diabo vinham muito bem no jogo, bastava sacar o Júnior Formiga da lateral, transferir o Zé pra lá e deixar os dois artistas da bola armarem o jogo juntos. Possuem estilos diferentes, afinal de contas. E se o Alex, zagueiro-solução, nem convocado será, o Juninho Pernambucano, que seria o segundo volante ideal, tende a sumir das convocações com o retorno do excelente Kléberson. Isso parece claro pra mim.

Que Carrasco que nada. A Celeste é raça centenária, a mesma raça que só não fez 4x3 num Senegal que vencia por 3x0 porque nosso Hermano perdeu um gol ridículo no final. O Recoba é, sim, o melhor jogador uruguaio, mas o fato é que quem entra dormindo contra a Celeste apanha feio mesmo, não tem papo. 3 gols em 20 minutos, pane geral no Escrete, não parecia o mesmo time. E o Juan urrando no meu ouvido. Se no primeiro tempo tive o deleite de ouvir o Juan explicar por telefone pro pai, que mora nos EUA, que o Brasil estava dando um baile na Celeste, aos 41 minutos do segundo tempo tínhamos nossos rabos tupiniquins bem entre as pernas. Vida eterna ao Boi, que impediu um conflito internacional. O Golias deveria ir pra Paulista vestido como aqueles homens-placa: “Contrata-se miolo de zaga”.




E qual foi a posição? 

E qual foi a posição?

Jogou o escrete. Contra o Peru, em Lima. Parreira prometera um jogo cheio de gols, considerada a tradicional vocação ofensiva do Peru, que eu devo ser muito ignorante, pois desconheço por completo. Bom, vamos ao jogo.

Em uma palavra, o que nos impediu de apresentar um futebol consistente: posicionamento. O resto é firula ou conseqüência. Parreira optou por 2 volantes de destruição e nenhum de armação, o que fez com que Gilberto Silva e Émerson Tatu batessem cabeça o jogo inteiro. Nunca vi o Gilberto tão mal com a amarelinha: atrasado, faltoso, perdido. Sempre me disseram que o melhor sempre desce ao nível do pior quando estes convivem. Bom, o Gilberto perdeu futebol por osmose pro Tatu. Pra piorar o Zé Roberto, Toninho do Diabo, teve que fazer dublê de volante, a ponto de enganar toda a mídia esportiva, mesmo a qualificada, que agora pensa que ele é volante e que temos 3 volantes. Bobagem, o Toninho é meia, nunca jogou de volante. Meia de armação, daqueles que fecha pra marcar, mas ainda meia. Só que se bobear virará o Zinho II do Parreira. Pra mim o Zé é tão útil ao time quanto o Alex, a única indefinição do time está na posição de volante de armação, que discutiremos depois.

Com o escrete mal posicionado, criou-se uma cratera na meia cancha: 2 volantes de destruição, um meia brincando de volante e o meia de aproximação, o prodigioso Kaká, se aproximando demais. Com buraco, sem armação. Sem armação, tome chutão. Passamos a depender dos lançamentos rivelinianos do senhor Lúcio, do refinado Roque Júnior e em especial do Dida, que joga tão bem com o pé quanto é desinibido e falante. Já que falei do Dida, destrinchemos a defesa, só que num parágrafo todo especial, só pra ela.

Existe algo me fundindo a cabeça. Um paradoxo, duplo na realidade. 1) Se há alguma coisa em que o Parreira é especialista e que nunca pudemos criticar em seus times, esta coisa se chama sistema defensivo. Seja por causa dos volantes, seja pela zaga escolhida ou pela personalidade precavida do treinador, nunca precisamos nos preocupar com as defesas Parrerianas. 2) Jamais gostei do Roque Júnior. Sempre achei o Lúcio um zagueiro nota 6. Mas todos hão de convir que se há algum mérito, alguma especialidade observada nestes jogadores, falaremos aqui de jogo aéreo. Alguém aqui assistiu a final de um torneio, em 30/06/2002, em que se enfrentaram Brasil e Alemanha? Há neste mundo algum time ou seleção que abuse mais do jogo aéreo, até por escassez de opções, que a Alemanha? Poxa, então fomos goleados pela Alemanha, uma vez que a dupla de zaga não consegue parar os altíssimos ataques de Colômbia e Peru pelo alto. Não, não fomos goleados. Se não me engano, Roque não perdeu uma só jogada pelo alto ali. São os mesmo jogadores, ano e pouco depois. Que pasó? Que não saibam armar o jogo, vá lá. Agora, nossos zagueiros estão pregados no chão? Viraram pebolim? Se o Milton Neves lesse essa coluna, diria: “ah, peloamoorrrrdedeus”.

Passando ao meio, a coisa melhora e o colunista fica menos ranzinza. Passando MESMO pelo meio, que ali não tinha, ninguém sabe, ninguém viu. Kaká está fantástico, soberbo. Mas Ronaldinho Michael Jackson ainda é melhor, o mais técnico do time. Ele tosse técnica, fede a técnica. Portanto, senhores Testemunhas de Alex, se o Toninho do Diabo sair desse time será pra entrada do Kaká. E tenho dito. Falando em jogador soberbo, Kaká só não foi o melhor do jogo porque El Garça resolveu calar uns críticos aí. Aliás, o Rivaldo me lembra o Garrincha em alguns aspectos, mas isso merece um coluna inteira. Vendo Rivaldo e Roque Júnior jogando, me pergunto quem, de fato, está de favor nesse time, escalado pela medalha de campeão do mundo pendurada na parede de casa...

Sou tiete, dos muitos mas como poucos, do Ronaldo. Mas ele está um boi. Sei que um jogador muda de características ao longo da carreira, mas o Fenômeno está um touro, sem malícia. E eu nunca vi um touro perseguindo hiena nos documentários da National Geographic. Possivelmente jamais veremos arrancadas fulminantes de leopardo faminto como nos idos de 96, 97 e mesmo 98. De bom mesmo, Ronaldo só nos ofertou um elástico clássico que fez o zagueiro parecer uma lhama louca. Sei que Ronaldo hoje é mais eficiente, mais solidário e ainda mais letal. Mas que está um boi, ah isso está. Deve, claro, continuar no time até 2049, porque camisas de força não me apetecem.

Da frente pro banco. Se Vicente Feola dormia, Parreira pretende pôr pra dormir os torcedores e os comentaristas que aguardam, ávidos, as substituições. O Golias está de sacanagem com a gente. Com disciplina germano-japonesa, faz sempre as mesmas coisas. Pra ter tirado os dois melhores do jogo, deve ter ficado de costas pro gramado até a hora das substituições, sempre atrasadas, por sinal. Aliás, esse traço do Parreira é que nem atentado no Oriente Médio: pode pôr todo dia no jornal porque vai acontecer certeza, mais cedo ou mais tarde. Nem precisa assistir ao jogo, pode escrever no dia seguinte ou comentar na mesa de bar que o Parreira foi cartesiano, conservador e previsível.

Em suma, o jogo teve 3 distintos momentos: o ritmo decente que o Escrete impôs no início, a pane que permitiu ao Peru igualar o marcador e a letargia que se seguiu, período em que os dois times se agarraram ao empate como podiam. Ah, sim, não falei dos laterais. Pra quê? Cá entre nós, o Cafu Sorriso tem hoje 33 anos, conhece a vida já. Falando baixinho, pro zagueiro não ouvir: você se mandaria pro ataque num time que os lançamentos partem do Lúcio?

quinta-feira, novembro 13, 2003

Não cheguei a coexistir neste mundo com Nelson Rodrigues. No ano em que nasci ele se foi. Mas já tive o prazer de saborear suas deliciosas crônicas por diversas vezes. Chego a me perguntar, por causa dele, se o futebol era mesmo tão romântico, diferente, superior e encantado ou se a Era Dourada foi construída por pessoas como Nelson. Sua paixão, seu ufanismo, seus exageros, sua descarada familiaridade com a massa, com a essência do futebol. Só ele para transformar um Fluminense x Olaria numa pacata tarde nas Laranjeiras numa verdadeira epopéia. Por isso sou uma das viúvas confessas de NR.

Por diversas vezes nestes parcos 15 anos em que acompanho e sofro pelo futebol olhei instintivamente para o lado em busca de uma opinião do Nelson. Queria do fundo da alma saber o que ele acharia do Brasil de 82, da consagração do Zico, do Flamengo e dos Menudos dos anos 80, de Don Diego Maradona, do São Paulo do Telê, Corinthians e Palmeiras de Luxemburgo, do Brasil tetracampeão, do Brasil do Zagalo, de Romário e principalmente do futebol agonizante de nossos dias, tema que destrincharei na seqüência. Talvez seja tudo uma questão de prisma: NR veria Rivaldo com seus lances geniais de 3 toques como um novo Príncipe Etíope? Que apelido teria Maradona? 94 seria epopéia? Hoje seríamos vira-latas novamente? O Baixinho seria um mito como Mané? Enfim, como teriam sido as duas últimas décadas por trás das lentes Rodrigueanas? Bom, para nós, muito menos enfadonhas, pelo menos. Será que o futebol está mais chato porque ele não está mais aqui?

Bom, digressões à parte, o que me traz aqui é uma triste coincidência. Este ano Nelson faria 90 anos. Este ano o Brasil bate no fundo do poço. Falemos do amor de Nelson, a síntese do futebol brasileiro e sua (nossa) eterna paixão: o escrete. O escrete que anda tão claudicante, escrete que nos faz chorar no meio fio, o escrete que ficou pra titia. Colômbia, Chile e Paraguai não nos querem mais. A Islândia quer ver a luz do Sol, não nosso perdido futebol. Por que o escrete está assim, convalescente, em pleno ano de Mundial? Considerando as diversas opiniões, como um hipotético escrete formado por Rogério, Cafu, Lucio, Roque Jr, Roberto Carlos, Emerson, Vampeta, Juninho e Rivaldo, Ronaldo (o do siso) e Romário (o maior óbvio ululante atual) e com artistas como Denílson, Edílson e Ronaldinho no banco pode não pôr medo numa ratazana de rua? Estamos sem alma, diriam alguns. Ok, sem alma não se chupa nem um Chicabon. Estamos sem essência, sem confiança, sem rumo e submersos num caos administrativo. Mas temos craques. E, acreditem, craques ganham jogos.Um lance daquele de domingo da Garça Genial do Barça contra a França e pronto, vencemos. O que será de nós? Sem nem um Nelson pra nos fazer sonhar? O canarinho jaz no divã e seu melhor analista dorme o sono dos justos. Onde está a Grã-fina das narinas de cadáver quando mais precisamos dela?

Faltam 99 dias para a Copa. Eu conto as horas. Vamos e venhamos: não se pode fazer 170 milhões de pessoas esperarem 4 longos anos torturados por um vendaval de incertezas. Como estudioso acredito que caímos nas quartas, diante dos "bicampeões" franceses. Como apaixonado vislumbro o penta e a redenção dos vira-latas. Bastaria o bronco do analista de Bagé chamar os craques e a eles dizer: "joguem". Denílson precisa de mais instrução que isso? Bom, chega de lamúrias. Vou voltar pro meio-fio. Sem a certeza eterna dos entendidos.


quarta-feira, novembro 12, 2003

ESPM



Trabalho de Marketing – 4o Bimestre



Professor Paulo Barreto







CSO – 4o B

Eduardo Neubern
João Leão
Joyce Avelino
Rodrigo Tafner
Tadeu Arvelos






ü O que é marketing experimental?
ü 2 cases
ü Relação com o PGE do grupo



Era uma vez, há muito tempo, um homem chamado Paulo. Ele morava em Barretos, interior da próspera província de São Paulo. Naquela época o furor do momento era um esporte bretão que recentemente aportara no país. O ludopédio logo se tornou futebol, uma paixão contagiante entre os locais.

Sabido que era, o jovem Paulo logo identificou uma oportunidade para iniciar sua incipiente vida de empreendedor, após sucessivos fracassos como empregado. Imaginou com razão que a prática da nova modalidade requereria acessórios básicos e decidiu especializar-se na produção e comercialização das tais chuteiras. Investiu um capital e logo viu-se proprietário de uma estrutura produtiva. Decidiu que faria chuteiras inteiramente pretas, apenas um modelo, apenas 3 tamanhos e que venderia apenas na sua fábrica mesmo. O negócio era promissor.

De promissor o negócio de Paulinho passou a lucrativo. E, como mel, a produção de chuteiras atraiu diversos concorrentes em pouquíssimo tempo, o que tirou o sono do nosso protagonista. Produtividade passou a ser palavra de ordem. Quantidade, produção maciça tendo em vistas maior poder de barganha, maior escala e maior margem de lucro, com preço unitário menor e massificação das chuteiras PB.

Paulinho era um visionário. Com o passar dos anos o segmento conheceu a estabilização das taxas de crescimento. Paulinho não queria isso. Queria ganhar mais, vender mais mas não sabia como oferecer um produto melhor do que o seu. Decidiu ver o que faziam seus concorrentes. Não demorou para constatar que as chuteiras deles em nada diferiam das suas, estética e tecnicamente. Ele não poderia cobrar mais por um produto sem diferenciais. Logo Paulo descobriu que o produto em si é objetivamente diferenciável, através de atributos tangíveis. A tecnologia barateou-se logo os produtos se tornaram comodites. E comodites não são lucrativas. A competição estava baseada no conhecimento e este também estava igualmente diluído, homogeneizando os concorrentes. Paulo havia sido pioneiro mas isso agora era passado. O mercado de chuteiras estava tremendamente dinâmico e havia necessidade de adaptação, reciclagem, flexibilização da PB. Paulo precisava se diferenciar. Decidiu criar uma marca.

Produtos têm fronteiras na objetividade. Marcas têm apelo relativo, subjetivo, emocional. E emoções não são passíveis de discussão como seriam a altura e a espessura das travas da chuteira. Marcas são símbolos, constituem a imagem de um fabricante de chuteira, pensou Paulinho. Astuto e vanguardista como sempre, decidiu que as chuteiras PB seria a “chuteira do craque brasileiro”. As chuteiras dos concorrentes eram chuteiras. Apenas as do Paulinho eram a do craque brasileiro. As vendas explodiram. Todos queriam ser o tal do craque brasileiro. Ou ao menos se sentir como tal. O faturamento da PB triplicou e a margem de lucro foi multiplicada por 5. Afinal era legítimo cobrar mais pela chuteira do craque brasileiro. A chuteira PB era a mesma chuteira de antes. Mas ele tinha uma marca.

Não tardou para o pioneirismo de Paulinho ir novamente para o espaço. Rapidamente surgiram “a chuteira do Rei”, “a chuteira verdadeira”; “a chuteira única” e a “chuteira tradicional” para abocanhar mercado da PB. E conseguiram. Agora todas tinham marcas fortes e únicas. Paulinho não se acomodou e novamente pôs seus neurônios pra trabalhar na idéia de uma nova diferenciação.

Decidiu assumir uma postura agressiva que acabou por coroá-lo como o Rei das chuteiras. Basicamente passou a fabricar modelos coloridos, de todos os tamanhos, para homens, mulheres e crianças, passou a vender em diversos pontos, a entregar em casas, a vender para lojas, a anunciar sua marca pela cidade, a consertar as chuteiras com defeito e a prestar um série de serviços adicionais. Em breve as chuteiras em si tornaram-se apenas um detalhe dentro de todo um composto de benefícios oferecido pela empresa do nosso gênio. A PB agora era uma empresa totalmente orientada e moldada ao mercado, com foco na necessidade e no desejo do cliente. Em poucas décadas ele deixara de lado as chuteiras pretas para produzir chuteiras de acordo com o pedido de cada consumidor. Ele chamou isso de um-pra-um.

Entretanto, como não falamos de uma ficção com final feliz, os concorrentes de Paulinho persistiram e sugaram todas as suas inovações. Ele era o líder, abria vantagem a cada novidade introduzida mas logo perdia participação diante da adoção de suas práticas pelos competidores. Quem ganhava com isso eram os consumidores de Barretos. O mercado que outrora tinha 129 fabricantes tinha agora 4 empresas fortíssimas com marcas sólidas, imensa escala produtiva e um vasto pacote de serviços oferecidos. Era briga de cachorro grande.

Matutando como sempre em sua incansável busca pela diferenciação Paulinho descobriu que o momento em que seus clientes realmente tinham satisfação com seu produto eram apenas aqueles, e se isso soa óbvio na época foi revolucionário, em que os consumidores usavam as chuteiras, sentiam as chuteiras, tinham uma experiência com as fantásticas chuteiras PB. Era chegada a hora de valorizar a experiência.

Nesse novo passo ele também se deu conta da importância das sensações que faziam daquele momento algo tão especial e marcante. Com informações que permitiam um contato direto com seus clientes a mídia acabou se revelando muitas vezes uma intermediária desnecessária. A percepção se daria pela mídia mas também dentro de todo um composto de ferramentas que aproximassem o boleiro das chuteiras. O mandamento era propiciar experiências, sensações, sacralizar o momento a emoção e assim gerar um vínculo, uma memória. Atrelar produto-serviço-marca-imagem-experiência-sensações numa arma só, numa isca única.

Paulinho era abusado, não à toa era líder do mercado e com negócios em expansão. Decidiu institucionalizar a emoção e a isso denominou de “método de venda de chuteiras EXPERIMENTAL”. O caminho para isso passa pelas sensações. Em linhas gerais esse processo objetiva permitir ao consumidor viver a experiência de possuir o produto antes de comprá-lo bem como oferecer uma experiência a ele durante o uso do produto/serviço. Paulo decidiu assediar os clientes e prospects. E percebeu que o melhor local para esse assédio era seu próprio ponto de venda. Ele descobriu o poder do merchandising. No ponto de venda passou a estimular a decisão de compra. Construiu inicialmente um pequeno espaço onde as chuteiras podiam ser provadas e testadas com uma bola e uma trave. Lá ela poderia haver uma simulação de um ambiente de jogo, de um momento de uso do produto, de uma situação de prazer.

Paulinho assim poderia estabelecer um vínculo emocional, sensorial entre o produto e o consumidor. Uma nova era, após a era do produto e a era das marcas pura e simplesmente. A experiência propicia sensações agradáveis que podem determinar a compra. Nosso herói enxergou seu método como uma pescaria. O anzol seria a chuteira, o peixe seria o consumidor, Paulinho o pescador e a experiência seria a isca, responsável pela sensação, pelo desejo, pela satisfação.

Cientificamente nada se provou no que tange à influência das experiências sensoriais como fator determinante de compra. Mas o que fica patente é que a experiência é uma ferramenta a mais na eterna busca pela diferenciação e pela fidelização dos clientes. Não garante por si só a fidelização mas é um passo a mais no caminho, uma vez que estreita o relacionamento do consumidor com a marca. Mas voltemos ao nosso protagonista.

Paulinho de Barretos, como todo gênio precursor, foi novamente plagiado em sua genialidade, dessa vez em escala global. Após a idéia de construir uma quadra e permitir que os clientes experimentassem ou mesmo usassem suas chuteiras em partidas com os craques da região, seu método ganhou os 4 cantos do mundo e não tardaram a surgir casos de sucesso relacionados ao tal método experimental de Paulinho:

ü A British Airways oferece serviços exclusivos como banhos quentes e toalhas brancas felpudas em alguns aeroportos, nas escalas de vôo longos e cansativos.
ü Disney, Hard Rock Café e Planet Hollywood adotaram um modelo de negócio em que o produto em si tem importância ínfima se comparada ao ambiente e às sensações vendidas no ambiente da compra.
ü O falecido Mappin decidiu há muito tempo postar seus televisores ligados dentro da loja para que os clientes pudessem ver no ato suas vantagens e benefícios.
ü A Ford está se propondo a pagar uma quantia ao consumidor que fizer um test-drive em algum de seus carros e mesmo assim decidir comprar um produto concorrente. É uma clara aposta na experiência especial propiciada por um test drive, altamente sensorial: o barulho do motor; o cheiro de carro novo; o toque no volante; o vento no rosto, a velocidade e a potência. É a compra pela experiência, pela sensação.
ü A loja Dzarm tem hoje 10% de seu faturamento em produtos baseados no aroma. São perfumes, velas, sabonetes, massageadores e saquinhos “stress less” que valorizam as roupas vendidas e predispões o cliente a consumir após uma experiência gostosa. A idéia é cativar quem usa o perfume e quem está junto e assim criar um vínculo positivo com a marca.
ü Recentemente foram criados outdoors com aroma de pizza para despertar nos motoristas e pedestres o desejo de consumir o produto.

Além desses casos reveladores foi descoberto um grupo de estudantes de propaganda e marketing da ESPM que está elaborando um plano de marketing para Terra Networks.

Esse grupo focou sua estratégia na divulgação e expansão do serviço de banda larga da empresa, o Terra Plus. A banda larga é mais lucrativa e seu mercado é menos disputado por ora. A diferença básica em relação ao acesso discado convencional está exatamente na rapidez de navegação e no conteúdo multimída diferenciado, com imagem e som de primeiríssima qualidade. No entanto foi detectado que o consumidor potencial não conhece esse diferenciais e por isso não vê vantagem em trocar de tipo de acesso. Como existe toda uma estrutura tecnológica especial por trás da banda larga também foi constatado que Terra Plus não poderia ser oferecido no domicílio dos usuários. Desse cenário nasceu a idéia da campanha “Descubra Terra Plus”

A campanha baseia-se na idéia de cativar, de seduzir, de assediar o usuário de Internet através da experiência única de navegar com Terra Plus. Por isso consiste na instalação de quiosques para navegação promocional com conteúdo relacionado a cinema(Cinemark e Blockbuster) e cultura(Fran’s Café). Esse conteúdo, composto de clipes, sinopses, musicas, entrevistas, perfis, traillers que criem um impacto no internauta a ponto dele se sentir dependente desse conteúdo especial e unicamente propiciado pro Terra Plus. O usuário sentirá literalmente a diferença entre a monotonia, lentidão e limitação da navegação via acesso discado e Terra Plus. Em termos sensoriais espera-se o impacto, em decorrência da oferta de conteúdo multimídia, na audição e na visão de um internauta embasbacado após experimentar a navegação de Terra Plus. E isso culminará em adesões e mais adesões.
Conforme pudemos perceber essa história real terá um lindo final feliz. Para o Paulinho Barretos, consagrado como gênio visionário do marketing, para as empresas que souberam se valer do marketing experimental como ferramenta de conquista, manutenção e fidelização de clientes e do sabido grupo do PGE Terra que soube empregar os ensinamentos acadêmicos combinado com cases de sucesso na elaboração de um plano de marketing que conduzirá Terra à liderança do promissor mercado de acesso via Banda Larga. Fim.



Os Caça Fantasmas(por eles mesmos)

O mito era secular. O ritual de passagem, quase indígena. O famoso canudo de veludo custaria aos guerreiros suas coisas mais caras, mais preciosas. Uma troca compulsória, uma empreitada medida em anos e onde os segundos são a mais valiosa moeda. Geração passou a geração que passou a geração a lenda do PGE: esqueça amigos, esqueça namoro, esqueça o sono, esqueça os colegas de grupo, esqueça o trabalho, esqueça férias e feriados. Só não se esqueça do dele, a causa de tudo isso.

Mas por que 5 brilhantes alunos dariam ouvidos a tanta lamúria? Sempre nos déramos bem, pela estrada ou pelo acostamento, nós sempre chegávamos lá. Só não sabíamos que dessa vez precisaríamos nos travestir de caça fantasmas. Fantasmas no atacado, diga-se de passagem. O primeiro veio antes do começo. Com tantas e formidáveis empresas, qual delas escolher? Como se isso fosse eliminar algum espectro lá na frente. Aliás, o fantasma da inocência nos visitou logo de cara. O perfeccionismo é lindo na esfera ideal, um obstáculo no mundo real. O tempo foi uma espécie de fantasma-sereia. “Nossa, 10 meses pra fazer um trabalhinho, sempre fizemos na véspera” e “puta que o pariu, faltam 3 dias e não temos a campanha ainda” marcaram momentos antagônicos. Acompanhando o fantasma do tempo, fizeram questão de nos perseguir vários outros: o da escolha errada; o do produto errado; o do grupo errado; o da estratégia errada; ações erradas, campanha errada, carreira errada. Um choque pra quem sempre esteve certo. É, o grupo Plus engoliu muitos sapos a mais pelo caminho.

Não bastou encarar fantasmas. Fizemos questão de alimentar vários, mas nutrimos mesmo um carinho todo especial pelo fantasma do relacionamento. Todo dia, meses a fio, sua dieta foi à base de muita arrogância, muita prepotência, muito estrelismo e muito elitismo. Acreditem, seus lençóis pesaram toneladas pelos idos de outubro. Os heróis da comunicação não conseguiam se entender. Até perceber que não queriam ficar vagando por anos e anos na ESPM, como legítimos... ops, como estrelas promissoras que não raiaram no black out da presunção. O tal de Paulo Gomes Evangelista é mesmo um moço volúvel. Você num dia se sente Porter, no outro pergunta por que insistir em algo fictício, acadêmico, quase teórico. O fantasma das coxas uivou muitas vezes sob nossas soleiras.

O PGE é de arrepiar, a gente garante. Você aprende a ceder, a trabalhar em grupo, a se relacionar acima de tudo. O stress é onipresente e a pressão, esmagadora. O fantasma do relativo diz que o trabalho está bom, bonzinho até. Mas logo vem o do absoluto interrogar o por que dum grupo com tanto potencial se satisfazer com um resultado tão aquém do possível, do provável. PGE me lembra um índio que tem que sair da floresta, caçar uma onça e voltar pra provar, mais aos outros do que a ele, que já pode ser aceito como um indiozão. Nos sentimos assim. Compramos reconhecimento, e não foi barato. Entendemos as noites do terror, a hora do pesadelo, os fantasmas se divertem, o pânico, a porta dos desesperados, os piores clipes do mundo a até mesmo o Gasparzinho. A sensação do 30 de outubro é inenarrável.

Resumo da ópera do fantasma: chegamos lá, foi foda, valeu a pena, aprendemos, exterminamos o PGE. Com geléia e tudo. Por isso escrevemos, direto de Lençóis Paulista, pra dizer que você não tem escolha: é arco e flecha nas costas e, se não voltar com a onça no dorso será sempre o moleque que mija na cama. O moleque assombrado.



Agradecimentos PGE – Eduardo José Neubern

O PGE foi foda. Você se sente obrigado a agradecer no final. E aí pensar em todo mundo fica mais foda que encaixar a verba nas ações e na campanha. Eu agradeço primeiramente a mim, que sobrevivi pra contar a história e escrever os agradecimentos. Agradeço à mamãe, que agüentou essa mala arrogante por longos 9 meses com ironias intra uterinas. Ao Bozo, que despertou meu fascínio pela mídia. Os desenhos me deixaram mais criativo e os castigos, mais marketeiro. Os concursos de redação me fizeram crer que eu daria um ótimo redator. Só serviram pra levar a alcunha de prolixo do grupo de PGE. Mesmo assim os professores me incentivaram e, após convencer a sala toda de que a monarquia era a solução do Brasil, eu decidi ser advogado. Criminalista. Era uma decisão tão convicta e embasada quanto no tempo em que eu queria ser arqueólogo, queria ser Indiana Jones. E assim eu fui levando, eles a me levar. Todo mundo me disse que eu chegava lá. Olha aí. Decidi acreditar.

Digressões à parte, eu “caí” na ESPM por me achar comunicativo, persuasivo, criativo, um forjador de imagens, um contador de estórias. Mas o que isso tem mesmo a ver com os Kbps da banda larga? Calma, eu não tô com pressa. Fiquei 10 meses só fazendo um trabalho, vou pular a melhor parte?

Na ESPM meu conceito de putaria mudou. Falando nisso, depois que você conhece o Tadeu vê que nada é tão ruim que não possa piorar. Saudosismo é saudosismo e para honrá-lo digo que a turma do primeiro ano era a melhor de todas. Churrascos da sala, o ócio, a baba no sofá às 3 da tarde e peças como Marcos Vinícius, Gilberto Sampaio, Pedro de Santi, Jair Marcatti, Eduardo Loebel, Mários René e Chamie e o Gomes, entre papagaios, fizeram de 98/99 o biênio sagrado da minha vida, minha vadiagem querida, que os anos não trazem mais. Isso sem desmerecer a Atlética, os jogos, as picaretagens, o Jacques Ben Meier, o Victor Aratangy, o Pedro Ivo, a Laila, a Luzileine e toda fauna excêntrica da ESPM.

Pra chegar até esse texto caótico muita coisa me sustentou, muitas memórias. Algumas até couberam e cabem nessas linhas. Eu fui feliz e como todos queria ter sido mais. Eu curti, eu me excedi, eu me comedi. Que seria de mim sem o futebol, o cinema e as viagens? Agradeço ao Woody Allen, ao Almodovar, ao Jim Carrey, Nick Cage, Tarantino, Jack Nicholson, Holywood, Blockbuster, 2001, Unibanco e a quem me apresentou a muitos deles. Seria ingrato eu não fazer menção aos boleiros que me entretiveram e aos futebóis que tanto conflito geraram no seio do Paulo Gomes Evangelista. Romário, o último dos românticos.

Não seria cabível verter essas linhas sem fazer uma alusão honrosa à Maíra, minha patroa de 21/08/99 até hoje. Ainda bem que ela fez ESPM e diz que fez PGE. Só assim pôde me engolir, entender e curtir de A a Z. Ela é fantástica. Um beijo, amor.

Muitos amigos pouco têm a ver com isso. Os canalhas do G7 e o China bem que tentaram, mas eu cheguei são ao fim disso tudo. Vocês são jóias raras. Que ninguém quer comprar.

Como não sou louco vou agradecer ao meu chefe antes de chegar ao rodapé. A ele e a todos da SAP que fizeram uma puta vista grossa quando me pediram algo pra ontem, passaram por mim e viram um baita “Planejamento Estratégico”; “O crescimento da banda larga” ou “Agradecimentos do PGE” reluzindo na tela. Fábio, valeu. Por tantos “dentistas” e “pneus furados” do Edu. Cadu, Robinson, Carneiro, Pedrão, Lu: agora eu sou contínuo sênior.

Eu não tenho gurus, não soube reconhecer um. Mas indiretamente em mim e nessas linhas tem uma “pena” de Paulo Francis, de Mainardi, de Chico, de Juca Kfouri, de Dali, de Nelson Rodrigues, de Legião, de Simpsons, Djavan, de MS(a aclamada Mãe Silvana) e de Arnaldo Jabor (Valeu, fera. Queria te abraçar no dia da analogia).

O meu grupo de PGE é um mar de ecleticidade.Uma espécie de Brasil, com final feliz. Muito potencial, muita miscigenação, muita bagunça, imediatismo, improvisação. Muito talento. Todos são ótimos, até o Maluf. O Leão é o rei da selva. Sua toca, nossa morada(desculpe Tia Celina). Um conciliador como poucos, um puta agregador, organizado, metódico, calmo, sereno, um ponto de equilíbrio. Tudo que eu não sou e precisaria ser. Vamos Mostardar muito ainda, pra ficar só nisso. João, pra quem não conhece, é aquele tipo de criatura “intretável”. Podem cair dois prédios de 110 andares ao lado dele que tudo está ótimo, tudo em paz. Valeu, brother.

A Joyce me lembra muito minha mãe. Competência e fibra a serviço do mundo. É chata, é crica, é estressada? É, claro que é. Só porque é agradecimento não quer dizer que ela é santinha agora. Comecei o curso sonhando em tê-la como recepcionista. Terminei me pondo no meu lugar e almejando ser seu motorista. Sabe que eu reconheço sua envergadura intelectual e principalmente profissional. Querendo ou não, é gente que faz. Valeu o “custo Joyce”, tê-la conosco. Joyce, eu dirijo muito bem. Se precisar...

O Rodrigão é outro. Puta capacidade. Parecido comigo e o inverso de mim. Pensamos muito em dupla e como tal litígios não faltaram. Em outubro quase pedi o divórcio. Era o “homem da área” no trabalho e, ironias e espetadas à parte, levo um saldo positivo do nosso convívio. Temos muitas afinidades e muito, muito papo pra queimar ainda. Como fala bem em público esse cara, gente. Valeu, fera. Ainda vou ser teu sócio em Floripa.

O Tadeu, ah o Tadeu. Do folclore para o folclore. Alguém conhece 3 Lagoas? Mais perto do Pacífico que do Atlântico. Ele não saiu da minha aba desde a cerimônia do chá de 98. Mala da pior estirpe. Malandro, o Maluf do grupo. Que de tão Maluf convenceu a todos que o Maluf era eu. Desse tipo de picareta que vai longe. Abre o olho, seu Fernando. O Tadeu, gente, é aquele mal necessário, aquele tipo de chato sem o qual não se vive. O único chato de que se sente falta. Testemunha ocular de grande parte das peripécias narradas nesse texto. Feliz e infelizmente, sei que essa formatura pra nós não quer dizer nada. Ano que vem, década que vem ele estará na minha aba. Valeu, Batoré.

Minha diversão vai chegando ao fim. Agradeci a quase todos aqueles que estrelaram o filme dos últimos anos. O curta metragem da ESPM. Ter que ser adulto é muito chato. Mais chato que fazer PGE. Aos meus agradecimentos seguem-se minhas desculpas aos muitos a quem perturbei. A distância se interporá entre nós. Ainda tenho muito por fazer, por viajar, por conhecer, por agradecer. Outros curtas pra assistir. Um longa pra viver. E, se depois disso, vocês quiserem se ver livres de mim, chamem um advogado. Quem sabe o do primeiro parágrafo.

Valeu.



Eduardo,

Tenha certeza, pois vai aparecer uma oportunidade para você. Tente
escrever algo sistemático para um site, ou monte o seu blog. Só para
ir treinando, desenvolvendo seu estilo.

A coluna do internauta sai na área de esportes do Terra. O e-mail é
terraesportes@terra.com.br. Mande um e-mail para eles, aos cuidados
do Paulo Matuk.

Um abraço,

Marcos.




> ---------- Mensagem original -----------
>
> De : "Neubern, Eduardo"
> Para : "'mcaetan'"
> Cc :
> Data : Thu, 21 Feb 2002 22:56:36 +0100
> Assunto : RE: Ai que saudades do Nelson.
>
> Marcos,
>
> copiei vc ao lado de outros medalhões(o Marques de Xapuri, Armando
Nogueira,
> era amigo pessoal do NR)exatamente por vê-lo como um dos poucos que
lutam
> pra manter acesa a chama do Nélson. Li "À sombra das chuteiras
imortais"e
> acabo de ler "A patria em chuteiras". O cara é demais. Realmente um
chute na
> mediocridade que ronda as entrevistas de nossos jogadores, nossas
mesas
> redondas.
>
> Vc como o Nelson, não é de meias palavras. Isso é primordial. Por
isso me
> espelho em vcs. Por isso copiei vc. Sabia que vc iria me responder.
Otima
> chance pra cumprimentar-lhe pela melhor de suas colunas(sou
suspeito pra
> falar do Baixinho): aquela em que o Romario tinha feito os 2 gols no
> SPFC(meu clube) e em que vc questionava o poder do Felipão em vetar
um
> artista duma seleção tao carente. Em preterir o genio. Fantástica.
Vc ainda
> disse ter mudado a coluna na ultima hora.
>
> Mas por ora apenas me espelho em vcs. Acabo de me formar pela ESPM
(meu PGE
> de graduação foi exatamente sobre o Terra), trabalho numa praia que
não é a
> minha mas ainda há de chegar o dia em que escreverei colunas como
vc, como o
> Armando, como o Juca. É meu sonho profissional. Viver de colunas.
Quem sabe
> um dia. Vc atualmente escreve apenas pro Estadão?
>
> Onde eu acho essa coluna do Internauta? Na home ou na pagina de
Esportes?
> Gostaria de poder acompanhar.
>
> Abraço e valeu pelo elogio, mestre.
>
> Edu
>
> -----Original Message-----
> From: mcaetan [mailto:mcaetan@terra.com.br]
> Sent: Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2002 18:38
> To: Neubern, Eduardo
> Cc: terraesportes@terra.com.br
> Subject: Re: Ai que saudades do Nelson.
>
>
> Eduardo,
>
> Sou até suspeito para falar do Nelson Rodrigues. Ele é meu ídolo
> maior. Quando escrevo, sempre penso em suas citações. Acho que meus
> melhores textos são os que lembram palidamente o mestre. Como ele,
> tento ser uma voz contra a mediocridade no futebol.
>
> Seu texto está belíssimo - e muito bem escrito. Vou enviar para o
> pessoal do Terra, que publica a "coluna do internauta". Quem sabe
> eles não publicam lá?
>
> Um abraço,
>
> Marcos.
>
>
>
> > ---------- Mensagem original -----------
> >
> > De : "Neubern, Eduardo"
> > Para : "'marcos.caetano@terra.com.br'"
> ,"'xapuri@armandonogueira.com.br'"
> ,"'paulov@lancenet.com.br'"
> ,"'kajuru@lancenet.com.br'"
>
> > Cc : "'uolesportetostao@uol.com.br'"
> ,"'trajano@lancenet.com.br'"
> ,"'juca@lancenet.com.br'"
>
> > Data : Thu, 21 Feb 2002 22:26:04 +0100
> > Assunto : Ai que saudades do Nelson.


Independência ou morte


Foi uma teta. Mas o Escrete está bem, tanto em absoluto quanto relativamente. Acredito bem mais no Brasil hoje do que há 15 dias, fato. Não por mérito nosso, estamos jogando dentro do que eu esperava: sem padrão nenhum, uma defesa chegada a um marcapasso, esquema errado mas muitos craques, criatividade considerável e presença ofensiva maciça. O que ocorreu foi aquela velha história da mistificação. A distância me fez crer que França e, em especial, Argentina, eram bichos papões intransponíveis. As duas primeiras rodadas só abriram meus olhos. As velhas verdades prevalecem. Copa não passa de uma panela rainha onde se pesam as camisas antes de cada jogo. Essas zebras são paraguaias. Não há bicho papão e o Escrete pode vencer ou ser batido pelos “pseudo-bichospapoes”.

Fiz uma análise do torneio ao fim da primeira rodada (06/06). Posso rasgá-la, picá-la e jogar pela janela no próximo gol canário. Não serve pra nada mais. Estou péssimo em bolões, preciso assistir a umas 14 copas pra começar a entender esse negócio. Mas a prática exaustiva leva à perfeição. Portanto comecemos pelo escrete.

Esses críticos fracassomaníacos que continuam discutindo convocação são os mesmo pentelhos que maldizem a coitada da China. Ora, que culpa temos de pegar uma baba de chave? Em qualquer outro lugar, rojões estourariam. Vocês me desculpem, mas Senegal, Croácia, Suécia, Dinamarca, EUA e Irlanda são, senão Bambalas como a China, equipes médias que os campeões mundiais devem bater sem perguntar por quê. Mas não, olham o rabico verde e amarelo e se esquecem de seus rabões.

Bom, o jogo de sábado realmente foi um treino de luxo. Porque o gol saiu cedo. Não há muito o que dizer. Infelizmente, em parte entendo por se tratar de uma competição, existe alguma regra no futebol profissional, talvez um respeito idiota, que proíba uma equipe de massacrar a outra e que obrigue o time que vence por 4 a 0 a tocar a bola de lado, pra se "poupar". Vá lá, usamos a cabeça. Mas bem que poderíamos ter metido uns 8 ou 9. Ainda assim me satisfiz, o Escrete jogou com Alma. São Marcos assistiu à partida, leva um 6. Cafu(8) foi excelente, mamou na teta. O Lúcio(5) ainda está sentindo o Mundial e o Roque(6,5), coisa de Copa, está surpreendendo. O Polga(6) é mais jogador que o Juninho Grande, mas insisto que se estivessem de verde e amarelo Baresi, Beckenbauer e Figueroa, a defesa continuaria exposta. Finalmente alguém apareceu pra jogar com o Roberto(8,5), que foi excelente, o Roberto do Real Madrid. Gilberto Silva(6) continua tão bem quanto pouco exigido. Juninho(6) não repetiu a boa atuação de estréia e deve ceder lugar para o Ricardinho Gambá(7), cuja personalidade me assombrou. Por outro lado Michael Jackson(8) se soltou e poderia crescer mais se não fosse ficar de fora contra a toda poderosa Costa Rica. Ronaldo(7,5) teve queda de rendimento, em decorrência da forte marcação a que foi submetido, mas é sempre Ronaldo e em 2 grandes lances decide um jogo, seja contra quem for. Mas meu destaque vai mesmo para Rivaldo(8,5), "El garça". Criticado, perseguido, bichado, tímido, irregular. Ok, digo que foi nosso melhor jogador até agora e, paradoxalmente, o mais regular. 2 gols e 2 assistências em 6 tentos. Lançamento primoroso para Cafu no ultimo gol, digno de Gerson. Completaram o Escrete o Capeta(5), que não esteve bem e Garrincha(3), que ou estava bêbado ou sofreu no amor, porque só jogou de lado, numa atuação pífia. Tem crédito. Curioso que justo os mais genuínos de nossos craques não conseguiram entortar a pueril defesa amarela. Para melhorar, novamente dentro do que Felipão poderia fazer dentro de sua lógica, pode-se pensar no Gambá pela esquerda, com o Michael pela direita, mais solto.

Agora, o que se pode ressaltar nesse torneio marcado pelo imprevisível, com jogadores mais fortes do que nunca que lançam o lateral na área e de gols na segunda etapa é esse negócio das zebras. Evidente que a zebra rainha foi a França. Campeã do mundo, craque fantástico no plantel, artilheiros da França, Itália e Inglaterra, confiante, entrosada, choca realmente que tenha dado au revoir sem ao menos um "but" feito. No entanto não acredito (eu, o "rei" dos bolões) em efeito dominó. Itália, Argentina e Inglaterra devem passar, como a Alemanha passou. Todos tropeçam, só o Brasil de 70, a Renascença do Futebol, venceu os 6 jogos de então. Ocorre que eu vejo uma vantagem considerável do Escrete em relação aos seus principais oponentes. Vamos comigo: França - Zinedine; Argentina - Verón; Itália-Totti; Inglaterra-Beckham; Portugal-Figo; Brasil -?. Aí é que está. Invariavelmente quando seus maestros não jogaram, de fato ou na prática, as favoritas agonizaram. Da mesma forma que nunca veremos nossos 4 Rs, 5Js, 2727 Ws e 83 Ps jogando o fino ao mesmo tempo, dificilmente os teremos, todos, num dia de Tião Medonho. Portanto somos de certa forma independentes. Ou com dependência pulverizada entre El Garça, Fenômeno, Michael Jackson, Robertão, Garrincha e Gambá. Esse seria ao mesmo tempo nosso diferencial e a razão dos reveses por que passaram nossos colegas. Não há de ser nada, o mundial apenas engatinha e embates homéricos virão.

Como cerejinha, cabe minha análise chave a chave.

França, a zebra rainha. Preparem a guilhotina para Lemerre. Dinamarca é sempre isso aí, oitavas ou quartas. Senegal, o melhor da África, gratíssima e alegre surpresa. Uruguai, um velho aristocrático falido que vende suas antiguidades na feira de sábado do Shopping Iguatemi.

Espanha saiu da puberdade. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Paraguai vacilão e África evoluída irão se engalfinhar no saldo, mesmo porque se equivalem. Estônia, uma decepção eslava.

Turquia decepcionou, passará no saldo. China não tem nem o que falar e Costa Rica é isso aí mesmo.

Coréia virou incógnita pra mim. Junto com Croácia, Itália, Argentina, Inglaterra e Portugal compõem o rol dos que jogaram uma boa partida e outra fraquinha. Ainda acho que passam, evoluíram demais e tem tempero holandês. Portugal sim, esse sim não me inspira um prognóstico sequer. Pode ensacar a Coréia, pode empatar em 43 gols e pode ser humilhado com veemência. Os EUA são grata surpresa, devem passar. Polônia é decepção, velhos reumáticos, inspiração zero.

Na Alemanha apenas 3 fazem mais de 5 embaixadas: Klose, Ballack e Schneider. A equipe é coesa, tem padrão, caminho fácil e deve chegar, mais uma vez. Irlanda é uma Bélgica melhorada e sua passagem é um mal pro futebol. Equipe desgraçada que só empata. Camarões decepcionaram, mais uma vez aquele papo de que Copa não é várzea, não é pelada. Arábia é a China da chave.
Argentina não é tudo isso, já não me tira o sono mais. Inglaterra é uma Espanha da vida, depende demais do galã punk. Suécia um pouco aquém de Dinamarca. Nigéria, vide verbete "Camarões". Devem passar platinos e ingleses.
Itália não é esse monstro instransponível que pintaram, foi garfada no ataque mas a defesa é permeável (Nesta estava fora). México é ridículo e por isso a Azurra não tem o que se preocupar. Equador é sarrafo e Croácia, incógnita, está neutra comigo.
Na chave da morte da classe média, as coisas parecem se delinear. Tunísia não é china ou Arábia, mas também é café com leite. Japão deve ser o primeirão, evitando parada bilateralmente indigesta contra o Brasil. Rússia, minha Russinha querida, é você que eu quero nas minhas oitavas tranqüilas. Vaias pra Bélgica, uma empatomaníaca, uma Irlanda vermelha.
Por fim meu time, após duas rodadas: Khan, Arce; Hierro; Nesta e Roberto; Schneider, Beckham, Fadiga e Rivaldo; Raul e Klose.
Bom, seria isso. Seria, se não fosse pelo meu desabafo final. Quis o destino e a balada que eu perdesse a eliminação do galo. Não vi o galo agonizar. Engraçado, este galo maldito, que há 4 anos povoa meus mais dantescos pesadelos. Perdeu durante meu sono. Sabe, eu estive em Saint Denis, em 12/07/98. Eu era um dos bobos da corte. Eles causaram em mim, nesta ordem, todo o torpor, o choro, a humilhação, o medo, o recalque e a revolta que podem acometer um amante da bola, um apaixonado pelo Escrete. Nas minhas barbas, na minha fuça, eles demoliram meu sonho dourado. Por vias sinuosas, agora eu rio por último. Eu odeio vocês, do fundo da minha alma. Por causa de vocês quase voltei a ser vira-lata. Há de chegar o dia em que enfiaremos não 3, mas 6 tentos em qualquer goleiro pederasta e arrogante de vocês. Comigo acordado, e de preferência no estádio. Mas mesmo assim, por linhas tortas, eu me regozijo, eu me contorço de prazer nesse momento. Vocês não me assombram mais. França, vá pro inferno.


Bate-papo – primeira rodada do Mundial 2002

Não acho. Senegal é o melhor da chave, fato.Acho que passa em primeiro.Ótimo aquele Fadiga. Jogaço hoje contra Dinamarca. Um dos melhores da Copa. Acho que o Uruguai já rodou, mas França não. Não é nada impossível um placar França (com Zizu) 2 x 0 Dinamarca, ou não? De qualquer modo achei que o Uruguai ou foi covarde ou pregou no segundo tempo, com um nego a mais, tava com o jogo na mão literal. Tava louco pra ver a França se dar mal, o que nos garantiria, aparentemente, pelo menos chegar nas semi sem stress. Foi um ótimo jogo, esse da França hoje. Argentina x Nigéria foi bom, o do Brasil também, Japão x Bélgica, Coréia x Polônia e Paraguai x África também me agradaram. Foram medonhos: Croácia x México e Costa Rica x China.

Fiquei devendo uma opinião do Brasil pra você. De modo geral acho que o Brasil não jogou mal. No entanto as coisas se complicaram porque o Michael de duas uma: ou sentiu a pressão ou ficou relegado à ponta direita pq o Juninho está embolando o espaço dele. Outro revés foi o Robertão ter jogado como se fosse um jogador normal (o Rivaldo não encosta e por isso eu trocaria o Juninho pelo Ricardinho, resolveria estes 2 problemas), um Junior Formiga da vida, tímido, correto, mas sem brilho. Sem 2 de seus maiores craques coube a Rivaldo e Ronaldo decidirem o jogo. O primeiro começou meio Alex, mas fez um ótimo segundo tempo, burrices desnecessárias à parte. O fenômeno me agradou, buscou o jogo, mas precisa ser mais Fenômeno, ir mais pra cima. Em suma, gostei do volume de jogo, das chances criadas, da marcação pressão e do Marcos(6) Gilberto Silva(7, entrou bem), Juninho(6,5), Rivaldo(7,5) e Ronaldo(7,5), além do espírito guerreiro.Felipão(7). Denílson(7,5) entrou bem mas tomou um cartão besta. Luizão(6,5) é grosso(jogou de zagueiro numa bola) com estrela e Vampeta(5) não conta. Não gostei: da zaga (já esperava. A surpresa foi o Roque(6) ter sido o mais regular. Lucio(5) afoito e Edmílson(4,5) péssimo), Cafu(5,5)(só tumultua e afoba o jogo, levantando a bola a todo instante e tomando bola nas costas), Robertão tímido(5,5) e o Michael não foi Michael(5,5), precisamos muito dele. Acho que uma grande vantagem é o fato de termos pelo menos 4 craques, de modo que 2 podem não estar bem(o que aliás foi o que aconteceu) mas dificilmente os 4 terão uma pane ao mesmo tempo.Deste modo não ficamos dependentes como França de Zizu, Argentina de Veron, Itália de Totti, Uruguai de Recoba (fominha hoje), Portugal de Figo e Inglaterra de Beckham.

Juiz: inocente, assustado, inexperiente, não teve má fé. Mas foi ridículo. Nota 4. A Turquia é mais do que eu pensava. Comparo com a Suécia. Sukur é apenas o terceiro melhor. O 10 é bom jogador e aquele Veron turco, ótimo, esperto, habilidoso, oportunista e inteligente. Não me surpreenderei se chegarem às quartas, ajudados pelo chaveamento.

Fechando o assunto Brasil, não adianta pensar em 4-4-2. Mais provável esperar um Polga (na real o problema não são os jogadores e sim o esquema) e quiçá um Ricardinho na esquerda pra equilibrar o time. Não começaria com o Denílson, apesar de estar louco só de pensar o que ele fará com os Chineses. Espero que Michael volte a ser um monstro a partir de sábado. Destaco o baque que foi o corte do Tatu, que já não era um grande líder, mas tinha papel preponderante, sendo uma peça chave na estratégia da equipe, tocava o piano pro Michael cantar.

Olhando pros demais, de modo geral, a França não me põe mais tanto medo (apesar de zizu não ter estreado ainda); Senegal é grata surpresa, Dinamarca continua a mesma e o Uruguai é o mais fraco da chave.

África do Sul evoluiu, Paraguai me agrada com o seu lateral, Espanha foi consistente, mas deve tremer e Eslovênia não conta.

Coréia, excelente, melhor asiática, entrosada, tem alma, toque de bola e velocidade. Não foi ajudada pelo chaveamento. Deve ser a primeira da chave, grata surpresa. Portugal se bobear ficar fora, frouxos de merda, uma Colômbia da vida. Polônia decadente e inofensiva e EUA não chegarão. Segunda vaga incerta na chave.

Alemanha foi muito forte, me surpreendeu, marcação e padrão de jogo, mesmo que seja através da ligação defesa-ataque a base de chutões. Tradição, força física e padrão de jogo. Será difícil de ser batida, quero ver contra Itália nas quartas. Camarões me agradou, evoluíram mas continuam instáveis. Irlanda é um país de merda com um futebol de merda, mas apostaria a segunda vaga neles, sei lá. Arábia é café com leite.

Argentina, infelizmente, é a melhor até agora. Entrosamento e confiança de França, Defesa de Itália e Ataque de Brasil.Falta goleiro. Mete medo. Inglaterra uma bosta decepcionante, Suécia dentro do esperado e Nigéria forma o trio decadente, com Polônia e Croácia. Ainda arrisco Argentina e Inglaterra.

Itália com melhor plantel desde 90. Totti craque e Vieri um Batistuta italiano. Difícil imaginar a Azurra derrotada. Chave ajudou. Assim como ao México, Croácia morreu, velha, fraca e sem alma. Equador não conta, muita botinada e pouca bola.

A chave do Japão é a segunda chave da morte na verdade(a primeira é a da França e a terceira, a da Argentina) e eu não tenho palpite. Rússia tem mais bola que o Japão e mais alma que Bélgica. Japão veio bem melhor, mas ainda é muito esforço e pouca bola. Nakata é enganação, marketing. Tunísia nula. Sei lá, se fosse obrigado a palpitar diria Rússia e Japão, não sei em que ordem. Só queria fugir do Japão pra não precisar reviver o trauma de 04/07/1994.

Seria essa a minha visão do mundial até agora. Vi todos os jogos, exceto Camarões x Arábia e EUA x Portugal. To gostando até, muita violência, muita força, algumas surpresas e decepções, mas em geral os times buscam o gol, normalmente no segundo tempo. Muito jogo aéreo também. Marcação pressão como inovação tática. Acredito na Argentina e na Itália, além do Brasil. Vamos aguardar é cedo pra dar prognósticos definitivos. Ótimos jogos hoje, não perca.

Por fim, meu time até agora seria: Khan, Arce, Nesta, Hierro e Sorin; Veron, Beckham, Rivaldo e Totti; Ronaldo e Raul.

É isso aí, cara.

Abraço.


-----Original Message-----
From: Marcelo de Barros Monteiro Roncatti [mailto:mroncatti@corp.globo.com]
Sent: Quinta-feira, 6 de Junho de 2002 11:27
To: Neubern, Eduardo
Subject: clones da copa
a frança já era hein?


grd.abs

marcelo


Quatro dias para o mundial. Em períodos como esse tenho a nítida impressão que minha vadia existência se restringe a assistir e esperar pelos próximos mundiais. A copa é a maior invenção do homem moderno, de longe. Sozinha, dá sentido à vida. Juro que estou arfante para ver cada impedimento de Costa Rica x China, cada erro de passe de Coréia x EUA, cada carrinho de Arábia Saudita x Irlanda. É como se fosse uma gestação de 48 meses, ou um orgasmo de 31 dias.

Estou na contramão de quem faz a apologia dos clubes. Pra mim o Escrete está acima de tudo, do bem e do mal. O escrete é a síntese de todas as paixões clubísticas. A nação em uníssono, um momento mágico em que todos têm o mesmo objetivo, em que existe um ponto pacífico. Digo mais: o Escrete é a razão de ser dos clubes, sua finalidade sacrossanta. Será péssimo se os Nostradamus do futebol acertarem e o mundo virar um eterno campeonato de clubes, cada vez mais importantes, ricos e repletos de craques extasiados pelo calendário carvoeiro vigente. Meu tricolor que me perdoe, mas o Escrete é o dono do meu coração.

Por falar em Escrete - é muito difícil agregar algo original em meio a essa enxurrada de textos - estou um pouco receoso. Se fosse só coração, endossaria cada vírgula ufanista do Milton Neves, cada suspiro grandiloqüente do Galvão. Mas o cérebro me transmite medo. Medo de Zinedine, medo de Juan Sebastian. Medo do déspota de bombachas, do analista de Bagé. Primeiro prescindimos do mais letal dos jogadores em atividade no globo. Agora Scolari, com sua blitz e seus camaleões, diz que vai montar o Escrete de acordo com o adversário. Parece lindo, soa moderno, transparece flexibilidade. Ele, flexível. Piadas à parte, é exatamente nessa novidade que reside meu temor. Se para enfrentar o titã de Istambul, o colosso da Muralha e a Laranja de San Jose lançaremos mão de três zagueiros e 2 volantes demolidores, que fará ele para adaptar a equipe aos Azuis ou aos Portenhos? Viremos a campo com 6 zagueiros e 4 brucutus? Olha, o Escrete vai ter sua paciência testada (aliás, o único teste) na primeira fase, diante de ferrolhos nunca dantes enfrentados. Mais do que nunca precisaremos de volume de jogo, de criatividade, de alternativas, de persistência ofensiva. Essas equipes não vão nos atacar, oficial. Juro por deus que não estou entendendo o pânico gaúcho diante da Turquia, um time do naipe do Equador (ops). Começo a pensar que dia 3 de junho teremos a inusitada imagem de 2 equipes, cada uma em sua intermediária, esperando o adversário e a pobre da bola parada, órfã, carente e titia no circulo central. Sempre fiz coro com aqueles que vêem em Denílson, o Garrincha dos tempos modernos, o estereotipo do jogador de segundo tempo. Mas diante do amadurecimento e da constância do Mané, começo a pensar que o Rivaldo poderia ser recuado e o mitológico Roque Júnior ceder seu lugar ao menino. Vampeta ou Kleberson não chega a ser dilema existencial, o dois saem pro jogo, passam e batem bem. Assim ficaríamos bem. Mesmo com a boemia do Rio de Janeiro tendo um freqüentador a mais do que deveria.

Mesmo com 3 típicos craques do futebol em preto e branco (Michael Jackson, o Capetinha e o Mané canhoto), não temos a melhor equipe das 32. Futebol não é só caneta. Falta-nos jogadores com voz ativa, que se imponham e que saiam de baixo da farda do Tio Scolari. Emerson Tatu não é o Dunga. França e Argentina têm mais equilíbrio, mais conjunto, mais solidez e mais padrão de jogo. São elas que povoam meus pesadelos. O chaveamento foi uma mamma com a Itália, que mesmo medrosa como sempre deve chegar, em meio a seus 1 x 0, à final. O time de Vieri não me causa um soluço sequer, no máximo vai me lembrar que madrugada é pra dormir. Ainda lá em cima, a Alemanha agoniza com seus culhões, Portugal e Espanha se ressentem dos mesmos e Camarões será simples e tão-somente Camarões, o Bozo da Copa. Isso nos leva a crer que teremos uma final precoce, seja nas oitavas (como em 90), seja nas quartas (como em 94), seja nas semifinais.

A 4 dias a ansiedade é tão grande que qualquer um decide pagar de colunista pra não ter mais que ficar grudado na tela lendo que o mascote da Arábia está resfriado, que o massagista da Eslovênia tinha um chaveiro do Pelé quando criança ou que os reservas de Senegal fizeram avaliação física pela manhã. O mundo anseia para que Henry role a bola para Trezeguet e nossa ofegante epidemia tenha início novamente. A nós cabe rezar, e este ano acho que vamos sofrer de maneira inédita, e chorar pelo Escrete, para que eu engula tudo que falei do caudilho dos pampas e mande fazer, em primeiro de julho, um busto dele no jardim do edifício Procium.


“Ventos da raça”


A final do Brasileiro 2001 foi a síntese de um campeonato onde os clubes tradicionais, recheados de estrelas e colecionadores de títulos, deixaram o futebol pra segundo plano. Da mesma forma em que imperaram na primeira fase a força de vontade, o entrosamento, o padrão tático e o futebol de conjunto, na partida de hoje o Atlético sobrepujou o xodó Azulão exatamente por ter posto em campo 11 deuses da raça. Os rubro-negros transpiraram vontade de ser campeão.

Não esperava que a segunda partida mantivesse o altíssimo padrão da primeira, por uma série de fatores. Primeiramente havia mais pressão, mais nervosismo em campo. Segundo, a chuva, que abençoou o Azulão na semifinal, inviabilizou um jogo bem jogado como o de Curitiba. Por fim, nesta tarde tipicamente paulistana já se sabia quais placares definiriam o campeão do esdrúxulo torneio desse ano.

O Atlético mereceu os louros. Foi mais time que o paparicado time do ABC. As próximas linhas se encarregarão de provar isso.

Geninho armou um time que remete ao Grêmio do Sr. Luís Felipe Scolari que encantou e horrorizou o Brasil em 95. Raça, marcação incansável, jogo aéreo e porrada. O goleiro inspira a mesma confiança do “Rolo” Danrlei: nenhuma. Os alas são bons tecnicamente e excepcionais – como todo o plantel – no quesito brio. Mas eu queria chamar a atenção pros 3 zagueiros campeões. Nunca vi um trio praticar um futebol ao mesmo tempo tão medonho quanto eficaz. Basta contar o número de meia-bicicletas, ombradas, pescoçadas, narigadas, coxadas e outras “adas” do mesmo naipe desfechadas sem o menor constrangimento por esses 3 ogros. Eu é que não entro num elevador em que estejam Gustavo, Rogério e Nem, que para o leitor ter uma idéia eu considero o mais mansinho do trio. É muita porrada, bico pro lado, grama pra cima. Coitada da bola. Chora só de ver aquele Gustavo barbudo. O jogador Cocito é do mesmo quilate dos três. Destruição a qualquer preço. É o Dinho da Baixada.

Do meio pra frente o campeão brasileiro é refinado. Gente, aquele Adriano gosta da bola. É dos últimos a não querer se livrar dela como se tivesse algo fervendo nos pés. Protege, tem visão, cadencia e é habilidosíssimo. Um jogador estupendo, que eu já conhecia. Agora esse Kléberson é um lorde da meia cancha. Inteligente, rápido, mortífero. Muito se falou em convocar jogadores dos finalistas pra nossa medíocre seleção mas talvez apenas esses dois meias tenham realmente gabarito para tal. Acontece que quando salientei o espírito de guerreiros apresentado pelos rubro-negros, mirei-me mais nesses jogadores classudos. Afinal, é de se esperar que jogadores sem o menor recurso combatam feito vikings em campo. No entanto o vigor de jogadores talentosos, a capacidade de recuperação e doação para a equipe neste meio campo é que impressiona. Cada um tem 6 pulmões.

O ataque toca na mesma melodia. Talento, velocidade e muita, muita pegada. Kléber é um jogador de futuro, um matador no mínimo razoável, que merece respeito. Agora o fiel da balança nessa etapa final foi o Sr. Alex Mineiro. É estrela, é fase, não é um grande jogador. Mas estava num momento que se fosse expulso de campo e rumasse para o chuveiro, no vestiário, a bola certamente pediria para fazer-lhe companhia no banho. A pequena simplesmente se apaixonou pelo “matador-azeitona” nos últimos 4 jogos. Daqui a 6 meses ele não fará cinco embaixadinhas mas o que ficará na história é que ele deu ao Atlético seu primeiro título nacional. Não se contentando em ser o “latin lover” da bola, o mineiro ainda ajudou na parte defensiva como poucos atacantes sabem ou querem fazer.

No que se refere à paixão pelo Azulão, diria que sou do contra, o cético, o chato da decisão. O São Caetano não é nada demais, amigos. Digo mais: é menos time que o Azulão modelo 2000. Marcos Paulo não é Cesar e Magrão tampouco Adhemar. Chegou na final porque não tinha pressão, levou o campeonato a sério, dedicou-se, deu continuidade ao trabalho do ano passado e em campo jogou o arroz com feijão. Agora em termos técnicos e táticos, não é o colosso que muitos julgam ser. A começar pelo próprio Jair, o sempre sereno Picerni. A mim sempre deu a impressão que tudo que ele dizia aos seus peladeiros antes da partidas era: “vão lá e joguem bola”, o que não necessariamente está errado. Agora, ele errou ao teimar em furar o bloqueio atleticano pelo alto, com o grosso Magrão. Monstros como aqueles do quarto parágrafo não são vencidos pelo alto, jamais. Nem pelo toque na entrada da área. Zagas sem curso pedem atacantes velozes e chutes de fora da área. Ferramentas de que, curiosamente, o Azulão dispões em abundância. Picerni errou também ao escancarar a equipe sem o menor equilíbrio no segundo tempo. Vai demorar pra enteder que 19 atacantes ao mesmo tempo não implica equipe ofensiva? O goleiro é um Dida dos pobres e a defesa, limitada. O destaque fica mesmo com o “duende” Anaílson, um bom ciscador. Adãozinho carimba burocraticamente as bolas e tem a pressa que falta ao Adriano. Esquerdinha é mediano, cada clube tem um. É só procurar. Sempre desconfiem de craques que aparecem aos 26, 28, 30 anos. No mais das vezes são jogadores em boa fase. E se numa final você precisa de Alexes Mineiros também não pode desdenhar jamais do bom e velho talento.

Na verdade quando desfaço do queridinho da torcida paulista não pretendo dizer que o Atlético venceu por ser superior tecnicamente. Os times são nivelados e, apesar da aula de futebol romântico dada no primeiro jogo, não revolucionaram o futebol brasileiro. São boas equipes, sérias e aquele bla bla bla todo do começo da coluna. O que fez o caneco rumar para a chuvosa Curitiba foi a gana desumana demonstrada pelos jogadores do Atlético. O sangue nos olhos, o espírito espartano, a vontade de vencer. Em mim ficou a impressão de que, nesse momento, não haveria Real Madri, Inter, Bayern ou Manchester que vencessem o brioso Atlético em seu alçapão.

Concluindo, como cerejinha de um campeonato tão atípico em que venceram os primos pobres, quero abrir um espaço para louvar o mais solitário dos atores do espetáculo da bola. Carlos Eugênio Simon deu mesmo uma aula de apito. E nem por isso quis sobressair-se. Frio, preciso, cirúrgico, permitiu que o futebol fosse jogado sem que suas variáveis malévolas influíssem em momento algum. Salve o craque da arbitragem. O namoradinho do Brasil , Azulão. E o invencível Furacão. No mínimo ensinaram aos grandes como encarar um campeonato de futebol.







The yellow submarine



Eu sou um apaixonado por futebol. Um entre tantos. Como todo apaixonado venho sendo provado e submetido ao sentimento da traição nos últimos anos. Meu refúgio, minha última ilusão, o lugar pra onde ia quando queria esquecer da injustiça, desigualdade e corrupção em que estamos mergulhados se revela agora tão abjeto quanto o mundo real. Sinto que meu oásis era mesmo só ilusão. O estopim, escândalos à parte, foi a derrota para o Equador. A seleção é uma síntese, um reflexo dos clubes. A sua crise nada mais é que a conseqüência maior do que se fez arduamente para destruir o futebol. Mergulhamos na pior das crises, a crise moral. A crise que não pode ser combatida. A seleção brasileira vendeu sua alma. Perdeu sua aura. Por quê?

Isso tudo é um processo, onde os resultados colhidos são o efeito e não a causa da crise. Os adversários não nos temem mais. Isso é muito mais grave do que aparenta. No fatídico dia em que fomos atropelados pelo Equador o São Paulo venceu o Botafogo da Paraíba por 10 a 0, dois dígitos. No ensejo muito se falou em humilhação. Mas quem foi mais humilhado, Brasil ou Botafogo - PB? A Austrália recentemente enfiou 31 gols na Samoa Americana. Seria o agonizante canarinho capaz? Retomo esse assunto desagradável porque o apaixonado esquece os reveses quando o objeto amado está distante, mas basta sua reaproximação para que as chagas sejam novamente abertas. Ninguém teme mais o Brasil e isso não tem nada a ver com o apregoado nivelamento observado no futebol mundial. Jamais poderíamos cogitar ser batidos pelo Equador. Talvez ganhar de 3 ao invés dos 6 ou 7 usuais na era romântica. Perder, não. Discordo de quem culpa o plantel. Temos talento de sobra ainda, não sei se o melhor, mas dos melhores elencos do mundo. Uma linha de frente com Juninho Paulista, Rivaldo, Romário e Ronaldinho Fenômeno não é desprezível. O técnico não é o melhor, mas figura na elite de sua profissão. A corrupção e a bagunça inerente aos dirigentes não são de hoje e mesmo assim sempre fomos temidos. O que mudou foi mesmo a mentalidade, a aura. O Brasil vendeu sua aura.

Muito se fala em lei Pelé, profissionalização e marketing esportivo. Mais do que nunca o futebol está na vitrine. O inestimável adquiriu valor, preço. Eu sou daqueles saudosos da era romântica (apesar de não tê-la presenciado) que dizem não voltar mais. Só quero entender porque o romantismo, quase amador, não volta mais. Se vocês querem ser mercantis, gerar lucro, vender um espetáculo e atiçar paixões nada mais adequado que ressuscitar aquele futebol. O futebol da seleção titânica, da seleção temida. O medo é essencialmente psicológico, percepção e imagem e nisso há muita intersecção com o marketing. Ocorre que a grande contradição é que quanto mais se busca mercantilizar o futebol, o esporte e a arte, moldando-os como produtos na prateleira mais a qualidade intrínseca desses produtos mingua. O alcance da mídia, sua cobertura insana não deixa vácuos de informação onde costumavam residir os mitos românticos. A dúvida é o alicerce do mito. A dúvida gera especulação, história, incita a imaginação própria das pessoas. Esse sufocamento e overdose de informação a que estamos expostos tornam tudo muito frio. Quem pretende mercantilizar o futebol parece desconhecer o poder do mito, da paixão. Por isso não temos mais o futebol mágico da época dos Beatles, dos clássicos das multidões, de Didi, Garrincha e Pelé. Eis o grande paradoxo: o futebol romântico seria o mais atrativo dos produtos, com seus heróis, rivalidades, jogadas e lendas. Mas esse futebol parece sepultado.

Como todo apaixonado eu tenho esperança. Afinal, se tivesse sido indagado acerca da última coisa em que deixaria de acreditar decerto eu teria respondido que seria o futebol. Eu não consigo vê-lo com isenção e nem mesmo sei como acabo de conseguir refletir tão friamente sobre a crise que o abala. Eu acredito no talento, na paixão e vejo outros esportes que ressurgiram das cinzas. Vivemos uma crise de mentalidade, respeito, espírito, confiança e auto-estima. Uma mudança na postura mercantil vigente no futebol poderá trazer a paixão à tona. E isso se aplica à NBA, à F-1, aos roqueiros e às artes. Paixão e mercantilismo não são esferas excludentes. Marketing e mitificação caminham no mesmo sentido e é por isso que eu acredito que o futebol ainda não morreu. O que precisamos é de um novo prisma e nesse contexto a mídia, os cartolas e nós, torcedores anônimos, desempenhamos um papel chave. O papel de incentivar, exigir, vasculhar e principalmente continuar acreditando. Acreditando que a chama nunca se apagará.



Eu assisti ao jogo do Brasil semana passada. Nunca em relação ao futebol tentei ser tão racional. Ando lendo sobre a crise que se abateu sobre a paixão nacional e discordando dos argumentos apresentados, discordando da linha de raciocínio. Por isso me propus a jogar dúvidas sobre as dúvidas, a mostrar que o buraco é bem mais embaixo.

O brasileiro tem uma índole muito peculiar. Temos carência de líderes, de pessoas que assumam por si só o sucesso ou o fracasso. Não concebemos o sucesso como fruto de um trabalho coletivo. Dizem até que queremos sempre um salvador da pátria. Mais do que isso: queremos também um vilão que nos facilite o entendimento da crise e nos amaine a consciência, numa economia infantil de reflexão. O futebol nada mais é que um microcosmo, uma metonímia do Brasil. Por isso Barbosa nos afundou em 50, Cerezo em 82 e Ronaldinho em 98. Agora não está sendo diferente. Buscamos desesperadamente algo palpável, tangível e concreto que explique a crise pela qual passa a seleção nacional. Na verdade não é difícil refutar todos os "argumentos-vilões" que muitos andam mencionando. Afinal:

· A corrupção dos cartolas não cresceu nem tampouco nasceu ontem. De maneira análoga à crise institucional política o que mudou foi a liberdade e penetração da imprensa para trazer à luz escândalos que corroem o esporte favorito do brasileiro. Só que com a mesma estrutura passional e podre o país conquistou 4 mundiais. A corrupção é nosso câncer há 500 anos.
· A bagunça do calendário é marca registrada do futebol tupiniquim desde mil novecentos e Charles Muller. Em 87 tivemos campeonatos paralelos. Em 79 tivemos um campeonato inchado.Alguns começaram num ano pra terminar em outro. Os regionais são marcados por desmandos e palhaçadas inacreditáveis. Sempre. De Norte a Sul. E nem por isso deixamos de ir ao México em 70, à Espanha em 82 ou de voltar ao México em 86.
· O namoro dos europeus com nossos craques se acentuou no início dos anos 80.Craques e pseudocraques brasileiros encantam o velho mundo há 20 anos. Portanto o excesso de jogadores no exterior não surpreende nem atrapalha. Principalmente porque França e Argentina, as vedetes do momento, têm fora do país a imensa maioria dos jogadores que convocam. Mais do que o Brasil. Isso não é desculpa.
· Uma crise técnica. Outra bobagem. Se tivermos na Copa uma linha de frente com Ronaldo Italiano, Romário e Rivaldo estarão em campo nada menos do que quatro títulos de melhor jogador do mundo nos anos 90. Um trio invejável. Isso sem mencionar Djalminha, Juninho Paulista, Roberto Carlos, Rogério Ceni, Vampeta entre outros que esbanjam talento e encantam o mundo com gols, dribles e jogadas divinas. É talento de sobra. Disputamos as duas ultimas finais de Copa e de 98 pra cá poucos daqueles deixaram o futebol. Dizer que ganhamos 94 por deficiência dos adversários é papo de crítico utópico e eternamente amargurado, viúvo de um mundo que não volta mais. Ora, se falamos em competição pressupomos comparação e por essa lógica fomos os melhores numa copa e segundo na outra. Os jogadores que nos levaram à essa condição morreram? Desaprenderam?
· A culpa é do técnico. Também não. Primeiro: ao longo da história contamos nos dedos de uma mão os estrategistas brasileiros que foram reconhecidos mundialmente. Temos bons técnicos mas não os melhores nem mais inovadores. O homem que dirige a seleção tem tantos títulos quanto Tele Santana, a fibra que o cargo requer e é um especialista em ganhar torneios cuja fórmula se usa na Copa do Mundo. Defensivista ou não, estamos em boas mãos. Felipão foi cogitado mais de uma vez para técnico de time grande europeu.
· Temos poucos dias pra nos preparar para as partidas. Verdade. O futebol caminha pra um modelo onde as seleções são preteridas pelos clubes. No entanto, pela mesma lógica de competição/comparação, temos de convir que todas as seleções que enfrentamos na América do Sul se deparam, em maior ou menor escala, com essa dificuldade. Reitero que França e Argentina têm mais titulares atuando no exterior que o Brasil.
· Não temos uma base formada. Não constavam no time base das eliminatórias de 93 Leonardo, Márcio Santos, Aldair nem Romário, mais de um terço do time. Mesmo assim vencemos nos EUA. É inerente ao futebol essa instabilidade, tudo é muito circunstancial e determinadas contingências impedem os treinadores de manter os mesmos titulares por 4 anos. Muitas vezes o campeão emergiu no decorrer de uma Copa.

Bom, arrancadas as máscaras, é hora de encarar o problema de frente. Infeliz e felizmente o maior adversário do Brasil não é a França, a Argentina, o Paraguai ou Honduras. Nem tampouco os argumentos acima desmontados. O Brasil hoje enfrenta o Brasil. O Brasil 4 vezes campeão do mundo, 6 vezes finalista, nunca ausente em copas, a essência, o conceito e a referência do futebol bem jogado. Vivemos uma crise psicológica sem precedentes. E isso é muito grave. Principalmente quando falamos de jogadores com pouca instrução e com uma estrutura psíquica frágil que perdem o rumo ao levar um gol de Honduras.

Digo infelizmente porque o fator psicológico é preponderante no esporte e na vida. A técnica vistosa não pode ser exibida sem motivação, confiança e auto-estima por trás.E isso não é papo de Lair Ribeiro. Ou seja, nos metemos num buraco subjetivo e que não se cobre da noite pro dia. Perdemos identidade, a aura, a confiança e consciência de que estamos na elite do futebol mundial. Uma crise cujos limites são difíceis de mensurar e cujo antídoto não se acha numa coluna de jornal.

Digo felizmente porque o problema é intrínseco. Depende de nós resolvermos, apesar de eu não saber como (disse que iria jogar dúvidas e não certezas). E é sempre melhor depender de si mesmo para superar uma adversidade. Precisamos de análise. De uma injeção de ânimo. Talvez uma exibição ininterrupta que perdure por meses e que mostre os momentos de glória do Brasil no passado e dos próprios lances fantásticos dos jogadores que hoje vestem a camisa amarela.

"O que fica disso tudo?", poderia perguntar um leitor mais afoito. Não há tempo hábil para se recuperar? Estamos no fundo do poço? Perdemos pra sempre nossa aura? Não, na verdade a magia do futebol sempre residiu em sua imprevisibilidade, no subjetivismo, no sobrenatural de Almeida que permeiam o jogo bretão. Este que com certeza não é um jogo de regras ou verdades absolutas. Mas como toda história tem sua moral pode-se concluir que não devemos nos portar como avestruzes. Nada de cabeça no chão. Nada de desespero e de iludir a si mesmo com um 2 x0. Chega de infantilidade, isso não é um faroeste maniqueísta de heróis e vilões. A vitória sobre o Paraguai não significa nada isoladamente. Nada legitima a definição sensacionalista de "jogo da virada". Falamos de um processo complexo e não mais de um fato pontual. Pouco importa agora se o Denílson é um mago, se a bola chora ao ver o Cris ou se o Tinga e o Eduardo Costa não valem juntos um Vampeta. O que não podemos é temer um Paraguai ou nos nivelar com um Equador. Nosso problema é de identidade, posicionamento. Precisamos saber nosso lugar. E nesse caso devemos nos mirar não no zagueiro que judia da bola, no volante brucutu que deixa o sangue no campo ou no craque que fará os gols da redenção. Devemos nos mirar no Roberto Carlos, por muitos visto como a antítese de qualquer modelo positivo. Ele mesmo. Esbanja técnica, sabe que é o melhor e numa situação calamitosa soltou pelos poros fibra e vontade pra mudar uma situação atípica. Ele sabe seu lugar e, melhor ainda, sabe como voltar a ele uma vez deslocado provisoriamente. Olhemos para o Roberto Carlos. Ele não é o herói nem o vilão. Mas talvez encarne muitos dos ingredientes psicológicos que nos reconduzirão ao Olimpo.


Não cheguei a coexistir neste mundo com Nelson Rodrigues. No ano em que nasci ele se foi. Mas já tive o prazer de saborear suas deliciosas crônicas por diversas vezes. Chego a me perguntar, por causa dele, se o futebol era mesmo tão romântico, diferente, superior e encantado ou se a Era Dourada foi construída por pessoas como Nelson. Sua paixão, seu ufanismo, seus exageros, sua descarada familiaridade com a massa, com a essência do futebol. Só ele para transformar um Fluminense x Olaria numa pacata tarde nas Laranjeiras numa verdadeira epopéia. Por isso sou uma das viúvas confessas de NR.

Por diversas vezes nestes parcos 15 anos em que acompanho e sofro pelo futebol olhei instintivamente para o lado em busca de uma opinião do Nelson. Queria do fundo da alma saber o que ele acharia do Brasil de 82, da consagração do Zico, do Flamengo e dos Menudos dos anos 80, de Don Diego Maradona, do São Paulo do Telê, Corinthians e Palmeiras de Luxemburgo, do Brasil tetracampeão, do Brasil do Zagalo, de Romário e principalmente do futebol agonizante de nossos dias, tema que destrincharei na seqüência. Talvez seja tudo uma questão de prisma: NR veria Rivaldo com seus lances geniais de 3 toques como um novo Príncipe Etíope? Que apelido teria Maradona? 94 seria epopéia? Hoje seríamos vira-latas novamente? O Baixinho seria um mito como Mané? Enfim, como teriam sido as duas últimas décadas por trás das lentes Rodrigueanas? Bom, para nós, muito menos enfadonhas, pelo menos. Será que o futebol está mais chato porque ele não está mais aqui?

Bom, digressões à parte, o que me traz aqui é uma triste coincidência. Este ano Nelson faria 90 anos. Este ano o Brasil bate no fundo do poço. Falemos do amor de Nelson, a síntese do futebol brasileiro e sua (nossa) eterna paixão: o escrete. O escrete que anda tão claudicante, escrete que nos faz chorar no meio fio, o escrete que ficou pra titia. Colômbia, Chile e Paraguai não nos querem mais. A Islândia quer ver a luz do Sol, não nosso perdido futebol. Por que o escrete está assim, convalescente, em pleno ano de Mundial? Considerando as diversas opiniões, como um hipotético escrete formado por Rogério, Cafu, Lucio, Roque Jr, Roberto Carlos, Emerson, Vampeta, Juninho e Rivaldo, Ronaldo (o do siso) e Romário (o maior óbvio ululante atual) e com artistas como Denílson, Edílson e Ronaldinho no banco pode não pôr medo numa ratazana de rua? Estamos sem alma, diriam alguns. Ok, sem alma não se chupa nem um Chicabon. Estamos sem essência, sem confiança, sem rumo e submersos num caos administrativo. Mas temos craques. E, acreditem, craques ganham jogos.Um lance daquele de domingo da Garça Genial do Barça contra a França e pronto, vencemos. O que será de nós? Sem nem um Nelson pra nos fazer sonhar? O canarinho jaz no divã e seu melhor analista dorme o sono dos justos. Onde está a Grã-fina das narinas de cadáver quando mais precisamos dela?

Faltam 99 dias para a Copa. Eu conto as horas. Vamos e venhamos: não se pode fazer 170 milhões de pessoas esperarem 4 longos anos torturados por um vendaval de incertezas. Como estudioso acredito que caímos nas quartas, diante dos "bicampeões" franceses. Como apaixonado vislumbro o penta e a redenção dos vira-latas. Bastaria o bronco do analista de Bagé chamar os craques e a eles dizer: "joguem". Denílson precisa de mais instrução que isso? Bom, chega de lamúrias. Vou voltar pro meio-fio. Sem a certeza eterna dos entendidos.


Moscas maquiavélicas

Os Americanos são o supra-sumo da humanidade, isso é patente. Todo campeão requer um vice-campeão, dentro de uma cultura competitiva winner/loser, todo herói quer um vilão num contexto maniqueísta estereotipado de Hollywood. Mas os russos se foram. Ganhar a guerra fria foi um mau negocio institucional,militar e economicamente. Logo chegamos à seguinte situação: “procura-se inimigo". Mas onde procurá-lo, expminiana leitora?

A megalomania, a arrogância, a pujança só podem nos levar a um lugar: fora da Terra. Depois da guerra nas estrelas com os combalidos soviéticos nada melhor que um embate interplanetário, os ET's querem nos destruir. Começa a lavagem cerebral via "cultura": os americanos são nossos líderes e seu líder, Mr. President, há de nos redimir. Existe água em Marte, existe vida lá. Mas o inimigo não vem de fora, o armagedon será insetífero. Provemos.

As moscas são maquiavélicas. Na ânsia iluminista de tudo explicar, atribuímos (provavelmente um cientista sobrinho do tio SAM) a fricção das patas das moscas aos ovos que elas supostamente estariam botando. Isso é mentira. Ao atritar as mãozinhas as moscas estão de fato celebrando mais uma etapa de sucesso do seu plano diabólico. Queria apenas ressaltar que bolei essa estória aos 16 anos, quando Franz Kafka era pra mim um nome tão familiar quanto hoje o é hfjrehfhuihrcnsjrhiu.

Pois bem. Qualquer ser quando planeja algo maquiavélico passa uma mão na outra com cara de Chang e sobrancelhas arqueadas. Sorrisinho sarcástico no rosto. VC está acompanhando a expressão? Seu maior expoente é Montgomery Burns. Ou seja: ao pousarem sobre uma pia, um armário é como se elas estivessem dizendo: “excelente”. Por isso atritam as patas. Estão confabulando, conspirando, atentando.

Ok, next step. Recorramos a Darwin. Só os mais aptos sobrevivem e qualquer professor de biologia da ESPM (?) já mostro a fita segundo a qual os insetos são os seres que melhor se adaptaram ao mundo e suas condições. Baratas sobreviveriam a uma guerra nuclear. Insetos vivem em meio à lava, ao gelo, nas condições mais inóspitas possíveis. Nos ambientes mais anecumenos, onde o arrogante Homo Sapiens nem aspira respirar. Mas os insetos não levaram os louros da vitória darwiniana. São relegados a segundo plano, ofendidos, usados como exemplo de ofensas, têm seus nomes citados em vão e, pior, com tom pejorativo. Nada melhor que se aproveitar da crise do egoísmo da pós-modernidade, o conceito turvo de ser, a crise de valores e o niilismo pra aplicar a lição final. A lição fatal. Enquanto a arrogância humana olha pra fora o golpe apocalíptico virá de dentro, das nojentas e desprezadas moscas. Aquelas, que comem merda, que "botam ovos", inofensivas, que enchem o saco, aquela cuja ordem foi dizimada (ó vã tentativa) por estúpidos CFCs, estéreis aerossóis,ordinários inseticidas e repelentes repelentes.Paulo Coelho nunca mais escreverá besteiras de moscas em sopa alguma(se bem que analisando friamente ele profetizou algo). A sopa da humanidade já está pronta. A hora da virada é chegada.

A taxa de oxigênio requerida por humanos é obviamente superior à dos superiores insetos. Eles se adaptam melhor, não sei se vos molesto ao frisar o cerne da superioridade deles.O que na verdade as moscas comemoram maquiavelicamente, elas que compõe o exército dos insetos, a linha de frente, é a confecção de uma colossal rede, uma gosma insetífera que irá sufocar os humanos e sua arrogância ao redor do globo. O homo sapiens sapiens perecerá diante da rede de baba confeccionada pelas moscas de todo planeta. Finíssima, a rede permitirá a respiração dos insetos. Mas o homem está fadado ao mundo das memórias. Finalmente o cetro do planeta passaria às mãos de quem de direito. Raciocínio é secundário. O mundo é adaptação. Só os mais aptos sobreviverão. Nada de bomba atômica, nada de russo, nada de ET. As moscas liquidarão a humanidade. Os insetos jogarão a pá de cal sobre nós. E tudo será cinzas.

Por isso apavore-se ao ver uma mosca olhando nos seus olhos, com aqueles olhos multifacetados, impossíveis de serem decifrados, dominados. Eles não revelam intenções ou planos. Tremas nas bases se uma mosca atritar as patinhas. Ela não está botando ovos. Está se regozijando. Mais uma etapa de sucesso foi concluída. Ela está dizendo "excelente". Ela vai te destruir. As moscas são maquiavélicas.


Obrigado por vossa atenção.


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