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quinta-feira, dezembro 04, 2003

Mirem-se no exemplo das 5 estrelas das alterosas 

Acabou o ano futebolístico brasileiro. O que havia de relevante para ser definido no cenário doméstico já o foi. Em meio a turbulências, muito a ser pensado, um ano que deixa muitas lições e nos permite tirar muitas conclusões. De modo geral, foi um ano positivo, dentro e fora de campo. Vamos lá.

O Cruzeiro foi campeão brasileiro após vencer uma maratona de 46 jogos. Sei que virou clichê já, mas foi a vitória do planejamento e da organização, corpos estranhos nos demais clubes tupiniquins. Da mesma forma que o formato da copa do mundo foi desenhado especialmente para o Felipão, o Brasileirão por pontos corridos foi feito no alfaiate para o Luxemburgo. Paixão e improviso foram substituídos por razão, profissionalismo e estrutura. Ainda sobre o óbvio ululante, encontrei um carioca que quis me provar que o campeonato com mata-mata, aquele em que o 8o melhor pode ser o melhor, é mais rentável, em especial para emissoras de televisão. Diante de tamanha asneira, disse a ele que um formato definido, justo, em que se sabe exatamente quantos jogos cada equipe fará e que pode ser aperfeiçoado e repetido para todo o sempre só faz valorizar o torneio. Sempre digo que o futebol é uma metonímia da vida e uma metonímia do país. Investidores procuram confiança, credibilidade, transparência e profissionalismo. Só dirigente queima dinheiro. Sendo assim, um formato confiável e justo torna os direitos de transmissão mais caros e mesmo passíveis de uma exportação maciça, finalmente. Os Euricos odiaram esta versão porque com transparência fica mais difícil quebrar o clube. Ainda sobre o formato, acho que ele deveria se repetir pelos próximos 450 anos, bastando 3 coisas para aperfeiçoá-los: determinar que em caso de empate em todos os critérios o título deve ser decidido numa partida única em terreno neutro; diminuir o número de participantes para 20 ou 18 clubes (o que fortificará e valorizará sobremaneira a Série B) e por fim regularizar a transferência de jogadores de modo que um time não comece o torneio com 11 jogadores e termine com outros 11. Para tal, sugiro períodos específicos para abertura do mercado, bem como um limite de jogadores a serem transacionados.

Outra lição começou a ser dada em 2002. O Santos, atual irregular e brilhante vice-campeão, mostrou ao país que se podia ser campeão com um time barato e formado nas categorias de base. Olhando para Palmeiras, Inter, Coritiba, São Caetano e de certa forma o Cruzeiro, percebe-se que a moda pegou. Foi-se o tempo em que se formavam esquadrões estelares da noite para o dia a custo de salários exorbitantes. Hoje em dia as equipes que insistem nisso fingem que pagam e seus pseudocraques, fingem que jogam, como bem sentenciou o Dada Maravilha do século 21. Aliás, abro parênteses para uma teoria minha. As seleções que se renovam mais facilmente e que possuem os melhores jogadores são exatamente as 4 que mais exportam craques: Brasil, Argentina, França e Holanda. Em processo industrial, a saída de craques abre espaço para o surgimento de novos ídolos. Certamente há 200 Kakás na Itália, 150 Robinhos na Inglaterra, 220 Diegos na Espanha e 25 Luises Fabianos na Alemanha. Pena que a eles caberás sentar no sofá e torcer pro Nedved, Henry, Ronaldinho Michael Jackson e Roy Makay.

Incomodou-me um pouco ler que a grande vitória do ano foi o fato de Palmeiras e Botafogo terem subido no campo. A mídia pensante e formadora de opinião não pode colaborar com os Euricos e disseminar a idéia de que honestidade é virtude ou acessório. Honestidade é obrigação, sine qua non. Palmeiras e Botafogo não fizeram mais que sua obrigação ao disputar a segunda divisão para a qual caíram no campo. Qualquer coisa diferente teria sido mais uma pá de lama sobre o abjeto sistema vigente. Antes que alguém se apresse a me explicar, sei muito bem que existem o mundo real e o mundo ideal, bem como uma situação em absoluto e uma contextualizada. Mesmo assim, não podemos pintar uma postura obrigatória como a mais nobre das virtuoses. Feita esta introdução, o que há de louvável no que se viu na série B se chama Bebeto de Freitas. Apesar de em recente seminário Bebeto ter feito de forma indireta uma apologia do passe, Bebeto de Freitas é o modelo a ser seguido, ou como preferem os clichemaníacos, o dirigente do futuro. Especialmente por ser o Botafogo uma equipe do Rio de Janeiro, reduto maior da filosofia retrógrada que hoje rege nosso futebol. Melhor ainda que Flamengo, Vasco e especialmente Fluminense, com sua mentalidade arcaica clássica, tenham tido desempenhos pífios. Acentua o contraste e mostra que o clube que quiser sobreviver numa primeira divisão profissional com 18 clubes e sob uma legislação decente, terá de contratar um Bebeto de Freitas para sanear e moralizar o ambiente.

No Brasil é mais difícil determinar onde fica o fundo do poço do que a existência de ETs cujas aeronaves pousam em campos de futebol. Sempre que achamos que atingimos o fundo do poço, alguém se encarrega de dar uma cavadinha extra e nos mostrar que a decida não tem fim. Mesmo assim, arrisco-me a dizer que estamos numa curva ascendente agora. As palavras-chave seriam transformação e adaptação, sendo cabalmente incorporadas pelos 2 melhores jogadores do Brasileirão. Alex transformou-se a ponto de conseguir ficar acordado por 90 minutos seguidos (e calar a boca de críticos como eu) e Robinho adaptou-se a ponto de tornar-se um jogador de futebol decisivo, ao invés de um jogador de circo, dos anos 40, desses que se dão melhor fazendo gracinha com a bola em intervalo de jogo. Mais motivo para sorrir nos dará uma legislação nova e necessária que está saindo do forno em forma de estatutos do torcedor e do desporto, entre outras leis que vêm por aí. Como não consigo ficar sem discorrer sobre o escrete, friso também que, desempenho em campo à parte, a organização em torno da seleção brasileira melhorou significativamente. Agradou-me a história do clube reunir-se na Europa para amistosos, do óbvio ululante que é interromper a disputa da Série A quando a seleção joga e também essas rodadas duplas que permitem à equipe se reunir por mais que 36 horas.

Tudo isso vem na véspera de um ano de ouro para o futebol e para o esporte, repleto de eventos de peso. Numa combinação cósmica, teremos Pré-Olímpico com uma geração fantástica, Brasileirão sem formato de Professor Pardal, Eurocopa, Copa América com craques à disposição, Jogos Olímpicos promissores para o Brasil e, localmente, celebração dos 450 anos de São Paulo, que ensejará certamente a realização de inúmeros eventos. Em se confirmando as tendências de melhora da economia, será mais do que hora para se investir no esporte, de modo que as lições positivas deixadas neste sofrido 2003 podem se solidificar em 2004 e marcar o início de uma nova era para o futebol e para o esporte brasileiros.

Clubes do Brasil: uni-vos, imitai o Cruzeiro e contratai um Bebeto de Freitas.



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