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quarta-feira, maio 26, 2004

O Boi e o Touro 

Já que nem o Escrete e nem a Seleção da Catalunha demonstraram muita preocupação com a partida de ontem, acho que por uma questão de harmonia e educação, o leitor querido e eu deveríamos assumir a mesma postura. Quer dizer que o cara tá dizendo na minha cara que não está nem aí pra coluna que está escrevendo? Pior: que quer decidir que tipo de postura EU, leitor, devo assumir? Vou parar de ler aqui então. Calma, não é bem assim.

Dificilmente um jogo não serve para absolutamente nada. Por exemplo, o jogo de ontem serviu para o pé do Alex Soneca formar um ângulo de 90 graus com sua perna na entrada sofrida pelo meia celeste. E pode servir para afastá-lo da equipe se a contusão for realmente grave. Viu como serve para alguma coisa? Sarcasmo à parte, uma partida é composta de elementos absolutos e outros relativos. Do lado absoluto, temos alguns dribles, que teriam sido dados no Nesta como foram dados na defesa catalã; as tabelas e fundamentos em geral exibidos pelos jogadores do escrete; e, por fim, a vontade demonstrada, algo ausente na festa de gala do Saint Denis. Relativos são o placar e a atuação da defesa brasileira, pouco exigida ontem. Portanto, insisto, alguma coisa se tira dessas partidas. Pessoas que clamam por mais tempo para treinos, muitas vezes um “ataque contra defesa” ou um “dois toques” não podem desdenhar 90 minutos jogados diante de 83.373 catalães (que, frise-se, “não são espanhóis”)

83.737 esses que vaiaram o Ronaldo Boi desesperadamente. O Boi não liga. O Boi gosta mesmo é de jogar no Camp Nou. Mais do que isso, o Boi a-do-ra defesa em linha, marca registrada na terra dos touros e que consagrou o Fenômeno em épocas menos bovinas. Ronaldo teve lampejos de “Ronaldinho”.

Muito mais que lampejos tiveram Edmílson (“senhor, perdoai-me por escrever isso”) e Juninho Pernambucano. Se o Kaká e o Gaúcho são realmente atacantes, Parreira acaba de ressuscitar um 4-3-3 que eu cansei de ver enquanto criança: um “volante-volante”, um camisa 8 meia que faz dublê de volante e um meia, no caso ainda o Zé Roberto Toninho do Diabo. Vai ser difícil tirar os dois jogadores do Lyon dessa equipe. Edmílson teima em jogar bem e Juninho finalmente virou sucesso de público, porque de crítica já era há muito tempo. É um pêndulo o Pernambucano com cara de vampiro.

Por falar em se negar a confirmar a fama de grosso, o Beletti deu conta do recado. Também merecem rápido destaque Edu e Ricardo Oliveira. Roberto Carlos é um robô que ri da própria perfeição e o Gaúcho, “ors concours”. Luizão ainda é o 5º zagueiro apenas e Cris, o 93º melhor que temos. O Cris é uma comodite.

A seleção da catalunha merece um par de linhas. Que hospitaleiros os nossos amigos. Pelo jeito pagaram com gratidão a chance de ver desfilar no Camp Nou os 4 melhores brasileiros desde Zico, os 4 Rs do Barça. A defesa joga em linha, cedem um espaço generoso, mas o amigo meio smurf, meio duende, o do cabelo azul lá (Sérgio Garcia) conhece um pouco. Enfim, é uma teta que precisa de mais 100 anos de treino.

O escolhido do tradicional penúltimo parágrafo tem cara de mulher e corpo de touro. Calma, não tem “minotaura” na coluna. Que diabos está acontecendo com o Júlio Batista? Alguém aqui pode me explicar? Parado ele me lembra o tal de Asamoah, aquele touro transgênico que jogou a copa de 2002 pela Alemanha. Pega na bola e vira uma gazela: ágil, pensa rápido, veloz, habilidoso e agora ainda deu pra andar de namorico com o gol. Qualquer dia vai acabar levantando uma bola rasteira cruzada na área e fazer um gol de bicicleta por cobertura.

Bom, pra concluir minha tese segundo a qual toda partida vale alguma coisa, a de ontem serviu para eu desenhar a seleção ideal do momento. Como o Kaká tem arranque e visão de meia, o Zé Roberto apenas passa de ano e o 4-4-2 é o mais equilibrado dos esquemas, tentemos: Dida; Cafu, Lúcio, Juan, Roberto Carlos; Edmílson, Edu, Juninho Pernambucano e Kaká; Ronnie e Boi. Isso se o Júlio Batista parar com as travessuras taurinas dele.

sábado, maio 15, 2004

A gangorra da família Scolari 

Lá se vão 640 dias desde que Marcos Evangelista ratificou seu amor por Regina diante de dois bilhões de telespectadores. Provavelmente ele não pensou nisso, mas naquele momento um país abria uma vantagem inédita de duas copas sobre os segundos colocados.

Como estamos quase no meio do caminho entre o Japão e a Alemanha, temos aqui um bom momento para uma análise do grupo pentacampeão, bem como de uma projeção para 2006. De antemão, adianto que não baterei na já gasta tecla de que o grupo de 2002 está decadente porque Roque Fulano, Edílson Beltrano e Ricardinho Cicrano decidiram descer a ladeira precocemente. Aliás, seria uma tentadora falácia enveredar por esse lado. Num cômputo geral, há um equilíbrio entre aqueles que pioraram, se mantiveram ou melhoraram “de vida”, por assim dizer. Como eu empreguei o termo “projeção” 6 linhas acima, é notório que haverá uma renovação parcial para 2006. Costuma-se dizer que um jogador atinge seu auge aos 28 anos. Dos pentacampeões, nada menos que 17 terão passado desta idade em 2006. Considerando que em 92 Romário não era nem convocado e que em 2000 o Fenômeno andava de muletas, tentar prever a convocação para 2006 seria uma atroz perda de tempo. No entanto, é igualmente útil mencionar valores novos como Maicon, Alex, Edu Dracena, Juan, Renato, Diego, Rochemback, Adriano, Luís Fabiano e Robinho ou mais maduros como Júlio César, Mancini, Juninho Pernambucano, Júlio Batista, Zé Roberto e Alex como potenciais nomes para substituir alguns filhos de Scolari em terras germânicas.

Marcos chegou aos 30 anos, o que chega a ser até uma vantagem para um goleiro. Trocou de camisa com o Dida, visitou os grotões da série B mas continua no Palmeiras. Dida, igualmente um trintão agora, trocou o hoje melancólico Parque São Jorge por Milão, onde é aclamado como uma parede gelada. Como Parreira declarou querer pelo menos um novato para 2006, coube a Rogério Ceni, pop star tricolor de 31 anos, ceder gentilmente o lugar ao que tudo indica ser o rubro-negro Júlio César.

Cafu só perdeu cabelo. Com a idade de Cristo, o apaixonado capitão quase escorregou e foi para o Japão, mas trocou o segundo melhor time da Itália pelo hexacampeão europeu. Como deve jogar na seleção até os 77 anos, Beletti, 27, não precisa se preocupar. Trocou os reais do São Paulo pelos euros do Villareal, onde voltou a jogar na meia cancha. Deveria dar-se por satisfeito com isso. Do outro lado, Roberto Carlos tem hoje 30 anos e ainda não desistiu de ser perfeito no elenco dos Galácticos. Seus fiel escudeiro, Júnior, não só não ganhou um só euro com a fraude na Parmalat como teve que deixar o time da empresa para defender o modesto Siena. Andou machucado mas agora voltou ao seu nível costumeiro. Bom, iguala-se a Roberto pelo menos na idade.

Lúcio tem hoje 25 anos. Questionado na seleção, segue em alta na Europa, onde seu ciclo no Bayer Leverkusen parece ter chegado ao fim. Ao que tudo indica, irá para a Juventus de Turim. Como não poderia deixar de ser, o Chelsea está na briga. Roque Júnior? Ah, sim. Roque Júnior, 27 ainda, trocou o Milan pelo Leeds e agora tenta ser relacionado para os jogos do Siena, atual 12o colocado do Calcio. Edmílson tem a mesma idade e diferente prestígio no mesmo Lyon que defendia à época do penta. Fechando a defesa campeã, Anderson Polga, 25, trocou os pampas pelo Sporting Lisboa e vem se destacando numa liga secundária como a portuguesa.

Gilberto Silva fez 27 anos e trocou o Galo pelos Gunners, onde joga mais avançado e faz mais gols. Quem também vive na ilha é Kléberson, ex-Atlético-PR. O menino de 24 anos é agora reserva no Manchester. Vampeta cansou de ter que ir à Bahia toda hora e resolveu mudar-se para lá em definitivo após o imbróglio no Corinthians. É outro que rompeu a barreira dos 30 e deveria ter atingido a maturidade. Juninho Paulista, 31, trocou o Flamengo pelo seu querido Middlesbrough, onde levou o time ao seu primeiro título. Middlesbrough este que conta agora também com Ricardinho, 27, que após envolver-se em polêmica transferência do Corinthians para o São Paulo, sofreu pressão insuportável no Morumbi e rumou para o Reino Unido em busca de tranqüilidade. Não jogou ainda. Por falar em pressão no Morumbi, Kaká conta agora 21 anos e hoje encanta a torcida, a imprensa, o primeiro ministro e o diabo a quatro no Milan. Diabo? Ronaldinho Gaúcho é hoje um veterano de 24 anos e após uma conturbada saída do PSG, faz o que quer hoje no Barcelona.

Rivaldo, que andava às turras com o presidente do Barcelona, mudou-se para Milão, onde virou o elefante branco número um do Milan. Boato vai, boato vem, foi parar no Cruzeiro de Luxemburgo. Hoje, aos 31 anos, é um craque desempregado cujo destino é uma pergunta que não quer calar. Ronaldo Nazário, nosso Fênix de 27 anos, deixou a Inter para tornar-se o matador dos Galácticos. Outro gordinho, Luizão, 28 anos de pendências judiciais com clubes, deixou o Grêmio para atuar no nada galáctico Herta Berlim. Agora tenta ser a estrela solitária em Niterói. Já Edílson, 33 aninhos e cara de menino, é irmão siamês de Vampeta e como tal foi-se embora pra Salvador defender o seu Vitória. Denílson ainda tem 26 anos e continua curtindo a noite de Sevilha como eterna promessa no Bétis. Por fim, no banco mudamos da água para o vinho, ou do infarto para o sono: onde sentava Felipão encontra-se hoje Carlos Alberto Parreira e seus lobinhos amestrados.

Falemos agora um pouco das seleções favoritas ou (nesse caso não se aplica um “e/ou”) mais bem colocadas no último mundial. As tabelas demonstram que não houve entre os jogadores destas seleções uma mobilidade comparável à ocorrida com os craques tupiniquins. Por três motivos óbvios. Basicamente porque os clubes de ponta sempre vão babando em cima dos atletas campeões, principalmente se eles jogam num país de modelo exportador e ainda mais quando se tratam de jovens.

A nossa saudosa Alemanha manteve Voeller no comando e continua se debatendo com problemas de renovação e de talento mesmo. Todavia, é uma das favoritas ao título em 2006. Primeiro porque a Alemanha é a Alemanha. Segundo porque o raciocínio é simples: se em 2002, após ter cortado quase um time inteiro às vésperas da copa e com aquela equipe que vimos, a Alemanha chegou à final, que dizer das chances germânicas quando eles jogarem em casa?

Quem tinha time para chegar à final e não o fez foram nossos amigos portenhos. Agora a Argentina passa por uma inevitável troca de gerações, sendo que o novo grupo possui talentos como D´Alessandro, Riquelme e Tévez mas talvez precise de duas copas para chegar ao auge. Ao manterem Bielsa e preterirem Bianchi, os argentinos declaram acreditar que o que aconteceu em 2002 foi um mero desvio de percurso e que El Loco merece uma segunda chance. Com o fim da era Batistuta e guiados por Aimar, a Argentina de hoje é uma incógnita.

Colegas dos argentinos no barco dos azarados ou no dos frouxos, os franceses possuem um envelhecido mas ainda poderoso time. Da equipe de 2002 e incluindo Pires, nada menos que 8 jogadores terão mais que 33 anos em 2006. A atual performance tem provado que o ocorrido em 2002 foi um misto de má sorte com excesso de Zidanecentrismo. Os campeões da Europa e da Copa das confederações vêm jogando um futebol equilibrado e de alto nível. Zidane diz que não irá à Alemanha mas isso é questionável. Sem ele a seleção de Jacques Santini torna-se uma equipe normal com um ataque poderoso. É esperar para ver.

A Turquia tem dado toda a pinta de que foi em 2002 a Croácia, a Bulgária e a Bélgica de copas passadas: o azarão que joga sem peso algum, aproveita as falhas dos adversários e a boa fase para chegar entre os 4. Os turcos estão fora da Euro-2004, o técnico Senol Gunes acabou de pedir as contas e é possível que a seleção integre outro grupo célebre, este formado por França, Inglaterra, Suécia e Holanda: o dos semifinalistas de uma copa que nem se classificam para a copa seguinte.

Há, sim, um conjunto complementar de forças que ainda têm que dizer a que vêm quando se trata de um mundial. A Itália tem uma geração talentosa e um técnico medroso. A Holanda é um celeiro de craques que, quando juntos, ora dão show, ora dão papelões memoráveis. A Inglaterra acha que é uma potência sem sê-lo mas certamente tem mais time que Coréia e Turquia. Por fim, Portugal e Espanha compõem o grupo dos frouxos que costumam tremer diante de equipes menos talentosas. Não há hoje na América do Sul uma terceira força digna de nota. Muito menos na África.

Esse especial é apenas um raio-x, uma fotografia do momento atual que certamente sofrerá alterações antes de ser emoldurada e colocada na parede da sala em 2006. As eliminatórias estão apenas começando e o fato é que, desde a copa 2002, ainda não houve um grande teste para as seleções nacionais. A Euro-2004 bate à porta e a copa América quem sabe possa nos dizer algo, apesar de todos sabermos que uma copa não passa de 4 semanas de pura magia em que toda lógica pode e deve ser amassada e pisoteada. O que se espera é que Marcos Evangelista tenha uma segunda chance de reiterar seu amor por Regina diante de 2 bilhões de pessoas.





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