<$BlogRSDUrl$>

sábado, maio 19, 2007

“O garoto” - crônica Brasil x Inglaterra 

Rio, 25/1 de 1933. Charles Chaplin, em férias no Brasil, deixa o Teatro Municipal rumo a uma famosa festa de pré-carnaval. O astro estava ansioso por conhecer a magia das mulheres brasileiras. Durante a tal festa Carlitos se engraçou com uma garçonete chamada Maria Carolina. Gênio do cinema mudo, Chaplin flertou com a moça por meio de mímicas e encantou a brasileira. Maria Carolina cedeu e o resultado foi uma tórrida noite de amor nas areias Copacabana.

Na manhã seguinte Chaplin retornou a Hollywood. Para ele, a festa da véspera tinha sido apenas uma entre tantas jornadas inconseqüentes pelo mundo da boemia. Mas o mesmo não podia ser dito a respeito de Maria Carolina, humilde moradora de Pau Grande. A jovem garçonete se apaixonara pelo astro inglês e resolvera deixar o marido e os quatro filhos pra trás e partir atrás do novo amor de sua vida. Informada apenas sobre a nacionalidade de Chaplin, a moça decidiu ir ao Reino Unido. Seu primo Reginaldo, funcionário do check-in do porto, fez vista grossa e Maria embarcou de graça em viagem rumo a Londres atrás do paradeiro do homem que lhe arrancara tantas risadas naquela noite.

Maria nunca havia deixado o estado do Rio de Janeiro. Por isso atribuiu à duração da viagem e ao balanço do navio o mal estar durante a viagem. No entanto, a insistência daqueles enjôos aliada aos novos sintomas fizeram Maria perceber que na realidade ela carregava o quinto filho em seu ventre. Para ela o bebê era o sinal de que seu destino era viver ao lado de Charles Chaplin.

Gotemburgo, 11/6 de 1958, Copa do Mundo da Suécia. Brasil e Inglaterra se enfrentariam pela segunda rodada do grupo 4. O English Team vinha de um empate contra a URSS e a pressão era grande para que o promissor Garrincha começasse jogando contra os brasileiros. A expectativa se confirmou e o garoto entortou Nílton Santos e humilhou o Brasil com três gols: 3x0 Inglaterra numa apresentação de gala do camisa 7. Das arquibancadas, Maria Carolina se sentia dividida: orgulhosa pela performance do filho, triste pela derrota vexatória e pela eliminação brasileira.

Após esse jogo Garrincha se firmou como titular e a seleção atropelou austríacos, galeses e franceses para fazer a finalíssima contra os donos da casa. O show de Garrincha na final garantiu a primeira taça à Inglaterra e o reconhecimento unânime à nova sensação do futebol mundial.

Quis o destino que Garrincha enfrentasse os compatriotas de sua mãe 4 anos depois, nas quartas de final do mundial do Chile. Novo pesadelo para Nilton Santos, nova apresentação genial e vitória inglesa por 3x1. No dia seguinte os jornais ingleses estampavam em suas manchetes: Garrincha é um extra-terrestre.

O ET carregou o English Team nas costas na semifinal contra os chilenos e na final contra a Tchecoslováquia. A Inglaterra era bicampeã do mundo e Garrincha se firmava como o maior craque de todos os tempos.

O legado de Garrincha forjou a escola de futebol inglesa, caracterizada pelo improviso, pelo brilho individual e pelo jogo bonito. Era o chamado futebol-arte. Fiel ao seu estilo e tendo Garrincha como técnico, a Inglaterra chegou forte ao Mundial do México em 70. Dessa vez o English Team foi liderado por Bob Charlton, voltou a bater o freguês Brasil (1x0) e goleou impiedosamente a Itália por 4x1 numa das mais memoráveis finais da história das Copas.

Após uma fase de instabilidade em que os ingleses tentaram copiar o modelo defensivo e mecânico dos rivais europeus, a Inglaterra voltaria a se sagrar campeã mundial 24 anos depois. O Mundial de 94 nos Estados Unidos assistiu ao renascimento do futebol-arte e consagrou os veteranos Gary Lineker e Paul Gascoigne. Curiosamente, a federação inglesa de futebol era então presidida pelo mito Garrincha.

O último grande capítulo da epopéia dos inventores do futebol teve como cenário a terra do Sol Nascente. Liderados por David Beckham e pelo garoto prodígio Michael Owen a Inglaterra venceu as sete partidas disputadas, com destaque para o grande embate das quartas-de-final contra o Brasil de Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. O antológico gol de falta de Beckham, encobrindo Marcos de uma distância superior a 35 metros teria partido de uma sugestão de Garrincha, que na véspera comentara sobre o posicionamento adiantado do arqueiro brasileiro. O título inglês veio com um 2x0 na final contra a Alemanha, dois gols de Owen.

O Brasil? Aos sul-americanos restou apenas a Copa de 66, conquistada no Maracanã. A vitória de 4x2 na final contra a Alemanha veio na prorrogação com um gol do desconhecido Pelé, em lance onde aparentemente a bola bateu no travessão, pingou sobre a linha mas não entrou. Os alemães questionam até hoje.

sábado, maio 12, 2007

“Dia da mentira” 

4 amigos: um “romarista” que nunca tinha ido a um jogo do Baixinho (ficou no “quase” diversas vezes, incluindo a copa de 98); um vascaíno que foi a três jogos na vida; um argentino que jamais pisara no Maracanã e um são-paulino que se via empolgado com a idéia de conhecer a Cidade Maravilhosa. Induzidos pelo “oba-oba” da mídia “oba-obística” e seduzidos pelo sol de 32 graus, acordaram às 06h30 no domingo 1º de abril e decidiram dirigir 5 horas para assistir ao derby Botafogo x Vasco no Mário Filho. Detalhe: o quinto amigo, justamente o carioca, vascaíno, romarista e assíduo freqüentador do Maracanã, desistiu na última hora.

2 gigantescos pontos de interrogação rondavam a cabeça dos empolgados amigos na estrada: conseguiriam ingresso para um embate cercado de tamanha expectativa? Iria o atacante quarentão retribuir o sacrifício dos peregrinos com o pseudo gol mil?

450 quilômetros depois os amigos chegaram ao Vaticano do futebol. A estátua de Bellini fez lacrimejar os olhos dos mais fanáticos do grupo. Sedentos, foram à bilheteria do estádio, ansiosos por responder ao primeiro ponto de interrogação do parágrafo anterior. Para surpresa geral, se depararam com uma fila tímida. Orientando os quatro companheiros, um “funcionário” à paisana gritava: “ali ó, vai direto no guichê, brasileiro não gosta de fila.” O primeiro desafio tinha sido resolvido a contento e por R$30 as entradas estavam garantidas. Hora de curtir Ipanema e mostrar parte da cidade ao amigo são-paulino.

5 horas depois, após enfrentar um sonoro “engarrafmento”, retornaram ao Mário Filho. Nova surpresa: o caos tomara conta do local e a única alternativa para entrar no estádio foi imitar a massa e pular as catracas. Estavam muito perto para desistir. Acomodaram-se onde as circunstâncias permitiram e se surpreenderam com a venda de cerveja dentro do estádio.

59.829 pagantes, cruzmaltinos em sua vasta maioria, aguardavam com apreensão pelo “gol mil”. O jogo? Nem o time do Vasco, liderado por um treinador sem equilíbrio emocional para assistir a uma disputa de pênaltis, parecia se preocupar com o placar. Um amontoado de 9 jogadores gravitava em torno de um peso morto buscando o canto do cisne. Organizado taticamente, com 2 ou 3 destaques individuais e mais perigoso, o Botafogo buscava vingança contra seu algoz. (Romário venceu a defesa alvinegra 31 vezes, o que faz do Fogão o time mais vazado pelo Baixinho).

A partida pareceu disputada em câmera lenta, talvez pelo calor, talvez pelo Vasco ter atuado no ritmo atual de Romário. O Botafogo dominou amplamente o primeiro tempo, anotando com Lúcio Flávio aos 14 minutos. Na segunda etapa o Vasco teve o zagueiro Dudar expulso e ainda sofreu o segundo gol em jogada de contra-ataque (Túlio, após bela combinação coletiva). O 2x0 frustrou os vascaínos (mais pelo zero que pela derrota) e deixou os botafoguenses próximos da semifinal da Taça Rio.

O artilheiro dos 901 gols oficiais passou em branco, decepcionando os 4 amigos e o quinto companheiro (o vascaíno) que ficara em São Paulo. Teve 4 oportunidades, uma clara, mas talvez o nervosismo tenha falado mais alto. Tentou marcar com a mão, o que lhe custou um cartão amarelo. Aos amigos restou dirigir 6 horas de volta a São Paulo e aguardar pelo próximo capítulo da conta de pescador do “Peixe”. Considerando a experiência, o balanço final foi positivo.

BOTAFOGOJúlio César; Joilson, Juninho, Alex e Luciano Almeida; Leandro Guerreiro (Wagner), Túlio, Lucio Flavio (Juca) e Zé Roberto; Jorge Henrique e Dodô (André Lima)Técnico: CucaVASCOCássio; Wagner Diniz, Fábio Braz, Dudar e Sandro (Thiago Maciel); Roberto Lopes, Ives (Renato), Abedi e Morais (Marcelinho); Leandro Amaral e RomárioTécnico: Renato GaúchoData: domingo, 01º de abril de 2007
Local: estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)Renda: R$ 927.455,00Público: 59.829 pagantesÁrbitro: Wagner dos Santos RosaAuxiliares: Marcos Tadeu Peniche Nunes e Sergio de Oliveira SantosCartões amarelos: Ives (V), Romário (V), Abedi (V), Fábio Braz (V), Dodô (B), Dudar (V), Túlio (B), Zé Roberto (B), Joilson (B), Jorge Henrique (B) e Renato (V)Cartões vermelhos: Dudar (V) e Joilson (B)Gols: Lucio Flavio, aos 14min do primeiro tempo; Túlio, aos 49min do segundo tempo

This page is powered by Blogger. Isn't yours?